Trabalho de medicina forense, feito pela SDH, e de peritos criminais da CNV demonstraram que Arnaldo Cardoso Rocha foi alvejado de cima para baixo quando já estava imobilizado após tortura, sem condições de oferecer resistência, como afirmava a ditadura
A Comissão Nacional da Verdade e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República entregaram hoje à família de Arnaldo Cardoso Rocha, em Brasília, laudos que apontam que o militante da ALN foi morto com vários tiros pela ditadura, quando já estava provavelmente imobilizado após torturas.
O laudo da CNV comparou os dados obtidos por médicos forenses a serviço da SDH, que exumaram o corpo de Arnaldo em agosto deste ano (leia matéria sobre a exumação aqui ), com o laudo necroscópico produzido há 40 anos, quando Arnaldo foi morto, e puderam concluir que os responsáveis por sua detenção atiraram para matar, contrariando a falsa versão, disseminada pela ditadura, de que Arnaldo morreu em tiroteio.
O laudo necroscópico do IML de São Paulo, produzido em 1973, não apontou os dois tiros fatais, no crânio, que ceifaram a vida de Arnaldo, muito menos as marcas de torturas, encontradas nos ossos de suas mãos e seus pés, pelos peritos indicados pela SDH e pela CNV. Já quando da exumação, em agosto, os peritos se depararam com imprecisões do laudo, uma vez que no caixão de Arnaldo foram encontrados mais projéteis de arma de fogo que os descritos no laudo de 40 anos atrás.
A revelação foi apresentada de manhã, em Brasília, no segundo dia do Fórum Mundial de Fórum Mundial dos Direitos Humanos - FMDH , antes do debate sobre Justiça de Transição que contou com as participações da integrante da CNV Rosa Cardoso e do juiz espanhol Baltasar Garzón.
Rosa Cardoso ressaltou o esmero técnico em busca da verdade: "Foram várias diligências: uma exumação e dois laudos periciais para definir a verdade de um caso. Um laudo de medicina legal, da SDH, e nosso laudo, em que comparamos o laudo anterior, da mentira, para elaborar um novo laudo, mostrando que Arnaldo foi executado da forma mais cruel e mais vil", afirmou.
A ministra Maria do Rosário, da SDH, disse que o Estado brasileiro ainda não pode pedir perdão pelos crimes cometidos na ditadura: "Só podemos ser perdoados como Estado quando repararmos totalmente essa História, não peço perdão por que acho que ainda não o merecemos".
Rosa ressaltou ainda que não se chegaria a lugar nenhum na investigação em busca da verdade sem o interesse e a busca incessante das famílias de mortos e desaparecidos políticos. Segundo Iara Xavier Pereira, viúva de Arnaldo Cardoso Rocha, as famílias não são movidas por vingança: "Não é sentimento de revanche ou de vingança. Queremos o esclarecimento das circunstâncias e a autoria", afirmou. Iara agradeceu todos os organismos envolvidos na apuração do caso de Arnaldo e fez um agradecimento especial aos peritos e ao procurador da República Sergio Suiama, autor da requisição da exumação.
Em entrevista logo após a apresentação do laudo produzido pela CNV, o perito criminal Celso Nenevê afirmou que Arnaldo foi atingido por pelo menos 15 disparos. "Uma pessoa que não tinha condição de se movimentar, de reagir, eu vou acreditar que isso é troca de tiro, que é confronto com o policial?", indagou.
FÓRUM MUNDIAL - Após a entrega do laudo sobre o caso de Arnaldo Cardoso Rocha, Rosa Cardoso participou de um debate mediado pelo deputado federal Nilmário Miranda sobre Justiça de Transição. Segundo Rosa, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade tem que ser claro ao apontar os autores de violações de direitos humanos: "Temos que estabelecer os autores das violações de DH e, claramente, as cadeias de comando", afirmou. "Uma das faces da verdade é a Justiça e ela tem que ser feita ao lado da verdade", concluiu a integrante da CNV.
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