sábado, 26 de outubro de 2019

UNIDADE ACIMA DE TUDO

                                                                     

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) manifesta com entusiasmo sua solidariedade militante a todos os povos da América Latina e Caribe que neste momento se levantam aos milhões contra o desastre neoliberal que vem sendo implantado há décadas em nossa região. Ao mesmo tempo, protestamos com indignação contra a repressão selvagem realizada pelos governos subservientes ao imperialismo e que buscam dobrar a insubordinação popular com a brutalidade policial, a barbaridade contra a população, que inclui espancamentos generalizados, gás lacrimogêneo, gás de pimenta, balas de borracha e munição letal, o que vem resultando num verdadeiro banho de sangue com dezenas de mortos e milhares de feridos em vários países.

Os levantes populares que acontecem atualmente significam, ao mesmo tempo, o colapso da política neoliberal em nossa região, bem como uma reação do povo trabalhador contra anos de massacre aos direitos básicos, o que inclui a privatização dos bens públicos necessários à vida, como água, luz, saúde, educação, previdência, transporte, saneamento, telefone, aposentadorias, levando ao aumento brutal do custo de vida. 

Esta política vem acompanhada do desmantelamento das leis trabalhistas, promovendo salários miseráveis, além de favorecer a ampliação da corrupção nas altas esferas das classes dominantes, fenômeno estrutural do capitalismo. Tudo isso está sendo realizado para privilegiar e encher os bolsos dos empresários, banqueiros, do agronegócio, da oligarquia financeira e dos milionários em geral. Trata-se de uma classe dominante arrogante, autoritária e truculenta com o próprio povo de seus países, mas profundamente servil aos interesses do imperialismo.

A ação imperialista em nosso continente se traduz ainda no aumento da presença militar dos Estados Unidos na região, buscando pôr em prática seus planos de exploração econômica e cooperação militar articulados com os governos subservientes a esta política. A recente ativação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) representa um passo ameaçador na preparação das condições para uma agressão militar, sob a máscara de uma aliança regional. 

Para cumprir os objetivos econômicos de controlar recursos energéticos, a biodiversidade, a água, o petróleo e diversas outras riquezas naturais que o continente possui, a administração Trump promove ações de todo tipo com a intenção de provocar a desestabilização e a derrubada dos governos de Cuba Socialista, da Venezuela, Nicarágua e Bolívia, os quais, com suas especificidades políticas e sociais, representam obstáculos às pretensões e aos interesses imperialistas.

As rebeliões populares, em geral ainda espontâneas em sua grande maioria, também significam que os trabalhadores e trabalhadoras não só estão perdendo a paciência contra a barbárie neoliberal, como prenunciam um novo ciclo de lutas na América Latina e Caribe contra o imperialismo, os altos ganhos das classes dominantes e a destruição dos direitos e garantias, com o rebaixamento dos salários e das condições de vida da população. 

Os levantes apontam para a possibilidade de avançar na busca de um novo rumo para a nossa região, baseado no poder popular. A fúria do povo demonstrada nas rebeliões do Equador, do Haiti, de Porto Rico, a recente insurreição popular no Chile, que era considerado o paraíso neoliberal das Américas, as manifestações populares no Uruguai, na Colômbia, em Honduras, no Panamá e na Costa Rica demonstram que as placas sociais tectônicas começam a se mover em outra direção.

A resistência do povo trabalhador está demonstrando ainda que o medo está mudando de lado e levando pavor às classes dominantes, acostumadas a esmagar as reivindicações populares com a repressão policial, a perseguição política, ou afastar dirigentes políticos que não rezam por sua cartilha com os golpes jurídico-parlamentares, as farsas judiciais, a demonização pública, os boicotes, sanções políticas, econômicas e sociais visando dobrar pela fome os povos em luta. 

Esse conjunto de manobras e manipulações parece que está se esgotando porque os trabalhadores e trabalhadoras estão se cansando da farsa neoliberal e se mostram dispostos à luta de todas as formas para mudar a vida em nossa região. A repressão generalizada, que antes sufocava as reivindicações populares, agora aumenta a fúria dos povos, que enfrentam de forma cada vez mais destemida a brutalidade policial, impondo derrotas importantes a esses governos reacionários.

Gostaríamos também de advertir ao presidente Bolsonaro que não adianta tentar amedrontar ou intimidar a população brasileira, ordenando o monitoramento dos movimentos sociais e partidos políticos e prometendo utilizar as forças armadas em caso de manifestações populares em nosso país. Não se engane: quando os trabalhadores, a juventude e a população pobre dos bairros e periferias decidem lutar por sua emancipação e mudar o rumo da vida, não tem força militar no mundo capaz de derrotá-la, apesar da brutalidade da repressão e do sacrifício que tenha que ser feito no curso da luta. Afinal, vocês são poucos, nós somos milhões.

25 de Outubro de 2019.

Comissão Política Nacional do PCB"

O Chile atualmente

Olivier Ploux/Rebelión

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Alicia vai dançar para sempre

                                           


A Prima Ballerina Assoluta, do Balé Nacional de Cuba, nossa Alicia Alonso, glória da dança universal, nos deixou um vazio enorme, mas também um legado intransponível

Madeleine Sautié

madeleine@granma.cu

Como grandes espaços desérticos — o mesmo que uma cena desolada do que uma alma oca por causa da perda — sentimos o ânimo com o adeus definitivo que nos deu em 17 de outubro a Prima Ballerina Assoluta do Ballet Nacional de Cuba, nossa Alicia Alonso, glória da dança universal, que sempre colocava, tão alto quanto as palmeiras, o nome de sua terra natal.

«Alicia Alonso se foi e nos deixa um vazio enorme, mas também um legado intransponível. Ela colocou Cuba no altar do melhor da dança do mundo. Obrigada, Alicia, pelo seu trabalho imortal. Somos Cuba», comentou Miguel Díaz-Canel Bermúdez, presidente da República de Cuba, em sua conta no Twitter, assim como outras personalidades do mundo, consternadas com a despedida de Alicia.

SEU MÉRITO É MUITO GRANDE

Nascida em 21 de dezembro de 1920, em Redención, popular bairro de Marianao, em um modesto lar formado por Antonio Martínez Arredondo, tenente veterinário do exército, e Ernestina del Hoyo y Lugo, refinada costureira, a ilustre dançarina encontrou na dança desde muito jovem a vocação que guiaria toda a sua vida.
                                                                  
Sua trajetória estelar, iniciada na Escola de Ballet da Sociedade Pró-Arte Musical de Havana, em 1931, foi forçada a tomar novos caminhos, tendo que marchar para o exterior devido ao baixo nível, preconceitos e caráter elitista que enfrentava o balé em Cuba então.

Traçar sua órbita artística profissional é uma tarefa ciclópica, já que inclui desde as comédias musicais da Broadway, o Caravan Ballet, o New York Ballet Theatre, o Washington Ballet e o Monte Carlo Russian Ballet, até seus colossais triunfos como atriz convidada de inúmeras companhias, festivais e eventos relevantes desse gênero artístico em todo o mundo.

Seu status excepcional como primeira Bailarina Absoluta não se devia a uma reputação hierárquica caprichosa, mas ao domínio de um vasto repertório de 134 títulos que englobavam as grandes obras da tradição romântico-clássica e as criações de coreógrafos contemporâneos.

Quando, em 28 de novembro de 1995, no Teatro Massini, na cidade italiana de Faenza, fez uma parada em sua carreira como intérprete, ela já havia conseguido estabelecer um recorde difícil de igualar, não apenas pelo período de dedicação sobre as pontas dos pés, mas pelo nível de excelência com que fez tudo isso.

A grandeza de Alonso reside não apenas em nos representar triunfantemente em 65 países, recebendo as ovações mais estrondosas, impossíveis de serem explicadas, de Helsinque a Buenos Aires, de Nova York a Tóquio ou Melbourne, mas de ter posto a serviço de sua terra natal todas as honrarias recebidas, entre as quais 266 prêmios e distinções internacionais, 225 de caráter nacional e 69 criações coreográficas – românticas, clássicas e contemporâneas, que ela fez, revertendo-as como frutos do trabalho que ela sempre viu como uma contribuição modesta, não apenas para sua cultura, mas para a cultura da dança em todo o mundo.

Obteve grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Havana, pelo Instituto Superior de Arte de Cuba, pela Universidade Politécnica de Valência, da Espanha, e pela Universidade de Guadalajara, no México; Ordem “A Águia Asteca”, conferida pelo estado mexicano em 1982;
Comenda da Ordem Isabel a Católica, concedida pelo rei da Espanha em 1993.

Ela criou a Fundação de Dança que leva seu nome e o Instituto de Dança Superior Alicia Alonso, ligado à Universidade Rey Juan Carlos. Foi membra honorária da Associação de Diretores de Palco da Espanha (ADE). Conquistou a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes de Madri, em 1998.

Tem o título de Heroína Nacional do Trabalho da República de Cuba; Ordem José Martí, maior prêmio concedido pelo Conselho de Estado da República de Cuba. Em 2002, foi nomeada embaixadora da República de Cuba pelo Ministério das Relações Exteriores. Foi investida em Paris do cargo de embaixadora da Boa Vontade da UNESCO.

O presidente da França conferiu a ela, em 2003, o grau de oficial da Legião de Honra. Recebeu em Cannes, em 2005, o Prêmio Irene Lidova por toda a sua carreira artística. Recebeu, das mãos dos reis da Espanha, a Medalha de Ouro pelo Mérito em Belas Artes, concedida pelo governo daquele país.
Em 2012, recebeu o Prêmio Alba de Artes, da Aliança Bolivariana para as Américas. Em 2017, recebeu o título de Embaixadora Mundial da Dança, concedido pela UNESCO.

Mais de meio século atrás, quando ela retornou ao nosso país cheia de honras estrangeiras, não hesitou em declarar:

“Toda minha esperança e meus sonhos consistem em não retornar ao mundo em representação de outro país, mas carregar nossa própria bandeira e nossa arte. Meu desejo é que não sobre ninguém que não grite: Bravo por Cuba !, quando eu danço. Caso contrário, se eu não conseguir realizar esse sonho, a tristeza seria a recompensa dos meus esforços”.

Essa posição patriótica a levou a fundar, juntamente com Fernando e Alberto Alonso, em 28 de outubro de 1948, hoje o Ballet Nacional de Cuba (BNC) e, em 1950, a Academia de Ballet que recebeu seu nome e teve a tarefa histórica de formar o primeira geração de bailarinos dentro dos princípios técnicos, estéticos e éticos da hoje mundialmente conhecida Escola de Ballet Cubana.

Durante 71 anos, especialmente após o triunfo da Revolução, foi possível, com mão firme, colocar o BNC entre as empresas de maior prestígio do mundo, basear um sistema de ensino que hoje abrange toda a ilha e é garantia de difusão do Balé Cubano, além de estimular um movimento de colaboração internacionalista que, no campo do balé, Cuba estendeu a quase cinquenta países nas Américas, Europa, Ásia e África.

Foi a guia e mentora Alice, que com sua presença aglutinante pôde reunir, em Havana, 26 Festivais Internacionais de Balé, as mais famosas personalidades da dança, em uma festa de arte e amizade. E é também a Alice que vimos dar o melhor desempenho de seus ensinamentos, fosse em cenários de maior requinte ou em plataformas rústicas, em praças públicas, fábricas, escolas e unidades militares, cientes de que as pessoas, qualquer pessoa, deve ter sempre tem a chance de crescer.

Aqueles que tiveram o privilégio de estar ao seu lado também conheciam o extraordinário ser humano que estava nela, que por coragem e disciplina de ferro nunca foi derrotado por falhas físicas, vicissitudes ou mal-entendidos.

Era nossa Alice que, embora banhada pelo cosmopolitismo, desejava ouvir os cantos de nossos galos, provar o cheiro do salitre de seu Havana Malecon, valorizar a borboleta e o coral como as coisas mais requintadas, ou fascinar-se com os avanços científicos e os mistérios do cosmos. “Um ímpeto tenaz, frenético e heroico – disparado contra doenças e contra o tempo – rumo à perfeição incansável.” Como Juan Marinello a definiu corretamente.

Leia mais: https://josemartirj.webnode.com/news/fallece-alicia-alonso-prima-ballerina-assoluta-del-ballet-nacional-de-cuba/

Fidel admirou Alicia Alonso profundamente. Photo: Tomada de Archivo

Devido à sua sensibilidade e mensagem valiosa, Granma Internacional reproduz a carta que Fidel enviou a Alicia Alonso em 16 de outubro de 2008.

"Querida Alicia:

Eu recebi sua linda carta. Você não pode imaginar o quanto admiro sua capacidade de preservar e dominar a inteligência privilegiada que a acompanha. Nunca esqueço o que você me contou um dia sobre a orelha que lhe permite acompanhar o balé, de olhos fechados, pelos leves passos dos sapatos. Seu mérito é muito grande. Você alcançou os louros mais altos do mundo antes do triunfo da Revolução. Apenas excepcionalmente alguém pode realizar esse feito. Hoje, o balé e muitas outras atividades de arte e cultura se espalharam. Era como a mão de seda que despertou o gênio adormecido no fundo da alma de nosso povo.

Glória eterna aos 60 anos do Balé Nacional de Cuba!

Fidel Castro Ruz"


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Comunistas italianos repudiam falsificação histórica


                                                                       
     O secretário geral do Partido Comunista, Marco Rizzo, rasgou a moção que busca equiparar o comunismo ao fascismo

Os comunistas italianos disseram “foda-se” à União Europeia no sábado, quando milhares de pessoas de toda Itália se reuniram em Roma contra a perigosa moção anticomunista aprovada pelo parlamento europeu no mês passado.

O secretário geral do Partido Comunista, Marco Rizzo, bradou seu pronunciamento enquanto rasgava uma cópia da resolução que iguala o comunismo ao fascismo, recebendo a aplausos das multidões reunidas na Piazza Santi Apostoli, na capital italiana.

Ele condenou a moção que pretende reescrever a história com a alegação de que o pacto Molotov-Ribbentrop de 1939 havia causado a segunda guerra mundial. A resolução também clama pelo apagamento de todos os memoriais do “totalitarismo” em toda a Europa, incluindo aqueles dedicados ao Exército Vermelho.

“Mas sem o Exército Vermelho”, ele disse à multidão, “estaríamos todos falando alemão hoje”, relembrando aos manifestantes que foram as forças do comunismo que derrotaram o fascismo na Europa.

Rizzo alertou que a legislação está sendo usada pela UE de forma a justificar os estados membros a proibirem partidos comunistas e símbolos comunistas.

Os únicos beneficiários dessa legislação seriam a extrema direita, que está crescendo em toda a UE, alertou Rizzo.

A moção foi apresentada pelo grupo de direita do Partido Popular Europeu, mas muitos eurodeputados de países com experiências recentes envolvendo o fascismo votaram contra a moção, incluindo o conservador partido Nova Democracia, da Grécia.

Apesar da natureza reacionária da resolução, ela obteve o apoio de vários partidos socialdemocratas – a maioria dos eurodeputados trabalhistas britânicos votou a favor.

A manifestação também foi convocada para se opor ao novo governo de coalizão da Itália, composto pelo populista de direita Movimento Cinco Estrelas e pelo neoliberal Partido Democrático.

Na sexta-feira, o governo anunciou planos para acelerar a expulsão de migrantes da Itália.

Em uma linguagem arrepiante, o líder do Cinco Estrelas e Ministro do Exterior Luigi Di Maio disse em uma conferência: “Eu não acredito que redistribuir migrantes para outros países europeus seja a solução final”.

O primeiro-ministro Giuseppe Conte deu boas-vindas ao novo plano como “um grande passo adiante” e disse estar confiante de que ele produzirá repatriações mais rápidas.

“A Itália sempre foi ineficiente nisso”, acrescentou Conte.

Rizzo permaneceu desafiador, prometendo resistir à antidemocrática UE e ao seu crescente anticomunismo.

“Eles acham que, agindo de tal maneira, impedirão nossas palavras, nossa militância, nossa determinação?”, perguntou ele. Aqueles reunidos em meio a um mar de bandeiras vermelhas responderam: “Não!”.

“Fodam-se eles”, retrucou com muitos aplausos, e jogou a resolução rasgada ao ar.

Texto disponível em: https://morningstaronline.co.uk/article/w/italian-communists-protest-eu-moves-to-rewrite-history

Autor: Steve Sweeney

Tradutor: Guilherme Laranjeira


Livro – Agenda Mulheres Revolucionárias II

                                                                   
A Fundação Dinarco Reis (Fundação de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais ligada ao Partido Comunista Brasileiro – PCB) tem o prazer de reeditar o Livro – Agenda Mulheres Revolucionárias, o qual reúne as histórias e relembra os nomes de mulheres dos mais variados campos de luta e resistência. Nesta edição, são destacadas novas narrativas de mulheres que construíram e constroem a história e a memória, das que ousaram mudar costumes e as que lutaram por um mundo mais justo e igualitário: mulheres revolucionárias.

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”
(Rosa Luxemburgo)

Contaremos com as presenças de Edmilson Costa (Secretário Geral do PCB) e Luiza Tonon (Historiadora e militante do CFCAM) para proferirem saudações especiais. Marta Barçante e Ricardo Costa (Rico), dirigentes da FDR e do Comitê Central do PCB, apresentarão o Projeto Livro-Agenda e o resgate das narrativas que o Livro-Agenda pretende fazer.

Esperamos vocês para esta celebração.
Lançamento Livro-Agenda Mulheres Revolucionárias II
Dia 11 de outubro (6a feira) às 18 horas
Local: auditório do SindiPetro (Sindicato dos Petroleiros) – RJ (Av. Passos , nº34 – Centro – Rio de Janeiro/RJ)

Agradecemos ao SindiPetro – RJ pelo apoio.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Como Che Guevara, ser hoje e ser amanhã

                                      

Localizado na mesma altura, outro Quixote perguntou uma vez, enquanto respondia, como gostaríamos que nossos filhos fossem, aqueles que agora somos nós e que pretendemos sejam os nossos: «Queremos que eles sejam como Che Guevara»

Dilberto Reyes Rodríguez | informacion@granma.cu



Sou ou talvez seja o dilema pessoal mais recorrente que, em questões de ética revolucionária, promove esse debate individual quando convoca a memória de Che Guevara.

Eu sou ou vou ser, talvez, essa pergunta perfurante que espeta o peito dos homens mais conscientes, cientes da força viva que foi impulsionada pela história e do exemplo impecável de Che Guevara.

É claro, em primeiro lugar, que não é uma pergunta para todos, assim como ele não significa o mesmo para todos. Um homem se torna um símbolo apenas naqueles que compartilham utopias, enquanto em outros ele continua sendo o homem da história, embora seja um homem renomado.

A questão é que Che Guevara convoca precisamente de todas as alturas: lenda, líder, soldado, companheiro, pai, homem de nível...

Nada em sua vida e obra precisa de um argumento de defesa que defenda seus valores. Ele não precisava disso vivente, quando falaram por ele a postura e o ato sóbrio em seus dias de crescimento mortal. Ainda menos, depois de sua ascensão do mundo dos vivos de carne para a posição dos vivos para sempre.

Do menino de Rosário ao líder guerrilheiro da Bolívia, há passagens constantes de desafios colossais: contra a asma, escalando todas as montanhas; para se curar? Não importa nadar através de um rio da selva; aprender da dor do povo? Basta rolar sobre a espinha de uma motocicleta pelos caminhos de um continente febril; ajudar a remediá-los, entrar no combate, embarcar em um iate, lutar e ter sucesso, e fazer a Revolução que iniciaria a rebelião continental pela qual ele já sabia que morreria.

Lendários como o homem eram seus objetivos impossíveis de alcançar e, mesmo assim, para os revolucionários mortais que o entendem, ele legou um amplo testemunho de desafios cotidianos praticáveis ​​no âmbito do humano e do virtuoso.

Localizado na mesma altura, outro Quixote perguntou uma vez, enquanto respondia, como gostaríamos que nossos filhos fossem, aqueles que agora somos nós e que pretendemos sejam os nossos: «Queremos que eles sejam como Che Guevara».

E hoje se trata disso, de nos perguntar se somos ou seremos, entender que a questão não é escolher ser hoje ou ser amanhã, mas ser sempre franco, ousado, trabalhador, solidário, crítico, decisivo e, é claro, sensíveis, sonhadores e dados ao bem comum, porque a felicidade construída para si mesma não é genuína. Só é verdade quando, como aquele próprio guerrilheiro do mundo tem uma alma coletiva e uma vocação para a humanidade.


(Com o Granma)

Não à renovação do Acordo Grécia-EUA sobre bases militares – Não à visita do secretário de Estado M. Pompeo


                                                                      

por KKE [*]

O KKE conclama os trabalhadores, o povo e a juventude a que se levantem contra a visita do secretário de Estado dos EUA, M. Pompeo, e acima de tudo contra a conversão da Grécia numa vasta base dos EUA-NATO. Este é também o conteúdo do "Diálogo estratégico" com os EUA, iniciado pelo antigo governo SYRIZA na Fase I e reforçado pelo governo ND com a actual Fase II.

O KKE apela ao levantamento e à participação em massa nas mobilizações do movimento anti-guerra e anti-imperialista contra a visita do secretário de Estado estado-unidense, que decorrerá por todo o país. Apela ao apoio por acções multi-facéticas a fim de encerrar bases dos EUA-NATO na Grécia e desenredar nosso país dos perigosos planos e competições imperialistas.

O "Acordo de Cooperação para Defesa Mútua", o qual já foi preparado por trás das costas do povo, que se prepara para ser assinado durante a visita a Atenas do secretário de Estado dos EUA, mais uma vez compromete o nosso país e o nosso povo em grandes riscos.

Ele se prepara para "de uma vez por todas" transformar mais da metade da Grécia numa base assassina para os EUA-NATO e os seus planos, desde os Balcãs e o Mar Negro até o Mediterrâneo Oriental e Golfo Pérsico, e faz do nosso povo um alvo de enfurecidas competições imperialistas sobre a região para partilhar o saqueio da Energia, das suas rotas de transporte e as esferas de influência.

O governo ND, no quadro do "Diálogo estratégico" iniciado com os EUA, iniciado pelo governo SYRIZA, prossegue uma renovação multi-anual ou permanente do Acordo Grécia-EUA sobre bases militares, seu reforço e expansão.

As capacidades da base de Suda, a qual já apoia suas operações desde o Mar Negro até o Médio Oriente e Norte de África serão mais uma vez expandias.

A utilização de UAVs (unmanned aerial vehicles) dos EUA e outros aviões é consolidada na base aérea de Larissa.

Helicópteros estado-unidenses são permanentemente instalados na Grécia Central (eles actualmente utilizam Stefanovkio em Magnésia para estacionamento).

Uma unidade EUA-NATO é instalada em Alexandroupolis, pois eles querem explorar o seu porto para finalidades militares (instalando forças EUA-NATO para a Europa do Leste ao longo da fronteira com a Rússia) e expandir interesses económicos dos EUA na região.

As afirmações do governo e dos partidos euro-atlânticos de que a anexação da Grécia ao carro de guerra imperialista da NATO, dos EUA e da UE assegurar paz e segurança na região não têm fundamento e são anti-históricas.

Suas bases não são construída para proteger o país e as fronteiras, mas para servir como bases para guerra e intervenções, para proteger os interesses de gigantes da energia.

Isto é o que o embaixador dos EUA, G. Pyatt, quer dizer quando repetidamente declara que a Grécia é um "pivô geopolítico" e um "estado na linha de frente" para os EUA. É isto:

Na "linha de frente" dos planos de guerra no Golfo Pérsico e contra o povo iraniano, tal como Suda o foi durante todos os anos anteriores como "linha de frente" de intervenções imperialistas na Síria, Líbia e assim por diante.

Na "linha de frente" dos planos da NATO para cercar a Rússia no Mediterrâneo Oriental e no Mar Negro.

Na "linha de frente" de planos para manter a Turquia no campo EUA-NATO, assumindo o papel de "o canal", abrindo-se sólidos planos de co-administração no Egeu e em Chipre.

O emaranhamento nestes planos transformará a Grécia num "imã" para ataques potenciais. Nosso país já foi visado. As declarações oficiais russas e iranianas a dizerem que no caso de os seus países serem ameaçados, eles virarão os seus mísseis contra os países que abrigam bases dos EUA são características.

Igualmente sem fundamento e anti-históricas são as afirmações de que deste modo o nosso país é protegido da agressão turca. A Turquia, como uma força da NATO, escala a agressão no Egeu e no Mediterrâneo Oriental, pondo e causa e violando fronteiras.

A participação do nosso país na NATO e na UE ao longo de anos, a presença de bases da NATO na Grécia não só não impediu como, ao contrário, agravou a agressão turca. A NATO não reconhece fronteiras no Egeu, a qual considera se um espaço de negócio único. 

Ela desempenha o papel de "Poncio Pilatus" nas disputas greco-turcas. Além disso, a promoção da partição e da co-exploração de planos de riqueza mineral em Chipre no Egeu é promovida sob os auspícios da NATO, dos EUA e da UE.

Não importa quantas mentiras eles contem acerca dos alegados "benefícios" que terá o povo grego, isto é a essência e não pode ser ocultado. 

Os únicos "intercâmbios" são aqueles que a burguesia espera para o seu reforço, ao passo que para o povo o preço é de riscos ainda maiores devido aos seus planos, com os povos sendo as vítimas – e isto significa novas guerras, pobreza, pessoas desenraizadas das suas terras natais. 

Os únicos vencedores serão aquelas partes do capital que se beneficiarão de parcerias na energia e outros negócios, as quais entregarão riqueza pública do país a interesses de negócios internos e estrangeiros.

O KKE defende firmemente os interesses do povo, trabalha pelo desenvolvimento da luta conjunta dos povos, pela cooperação mutuamente benéfica e exige:

Denúncia imediata do "Acordo de Cooperação de Defesa Mútua", o encerramento da base Suda e de outras bases militares dos EUA-NATO.

Não participação das Forças Armadas Gregas em missões imperialistas no exterior, desembaraço das alianças predatórias da NATO e da UE.

Fortalecimento da luta para o desembaraço da NATO e da UE.

Fortalecimento da luta conjunta e da solidariedade dos povos contra a guerra imperialista e o sistema que a sustenta.

Estes desenvolvimentos requerem vigilância e acção. Eles devem fazer soar um alarme, um levantamento real. Com ainda maior intensidade, ainda mais pessoas devem juntar-se à luta para informar, para mobilizar. 

As milhares de assinaturas já colectadas após o apelo do Comité de Luta contra o Acordo das Bases deve ser multiplicado. Ainda mais organizações e sindicatos devem empenhar-se para o êxito dos comícios que serão efectuados durante a visita do secretário de Estado à Grécia para a segunda volta do "Diálogo estratégico".

Faça com que a mensagem "Nem terra nem água para os assassinos dos povos" seja ouvida muito alto por toda a parte.

1º/Outubro/2019

[*] Declaração da Comissão Política do CC do KKE

A versão em inglês encontra-se em inter.kke.gr/...

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .


Chile condena 22 ex-agentes por crimes durante a ditadura militar

                                                

Ex-membros da polícia secreta de Pinochet estavam envolvidos no desaparecimento de dois opositores em 1974. Na época, Brasil e Argentina ajudaram a encobrir o crime. Todos já cumprem penas de prisão.

Quase trinta anos após o fim da ditadura militar no Chile, a Corte Suprema do país condenou nesta segunda-feira (07/10) 22 ex-agentes da polícia secreta de Augusto Pinochet, pelo sequestro qualificado de dois opositores, que tiveram os nomes incluídos na Operação Colombo, montada pelo regime para encobrir o desaparecimento de 119 presos políticos.

As sentenças envolvem os principais agentes da Direção de Inteligência Nacional (Dina), a polícia secreta de Pinochet. Na lista, estão nomes como o general Raúl Iturriaga Neumann e os brigadeiros Pedro Espinoza Bravo e Miguel Krassnoff Martchenko.

Todos eles já cumprem longas penas na prisão pela participação em violações aos direitos humanos durante o período em que Pinochet esteve no poder, entre 1973 e 1990.

As vítimas do sequestro são Héctor Zúñiga Tapia e Bernardo de Castro López, militantes de esquerda que foram detidos em meados de setembro de 1974.

César Manríquez Bravo, Pedro Espinoza Bravo e Miguel Krassnoff Martchenko foram condenados a dez anos de prisão, por serem considerados autores do rapto e posterior desaparecimento de Tapia, integrante do Movimento de Esquerda Revolucionária. Outros cinco agentes foram sentenciados pelos crimes.

Já pelo sequestro de López, militante do Partido Socialista, o tribunal condenou a dez anos César Manríquez Bravo, Pedro Espinoza Bravo, Gerardo Urrich González, Manuel Carevic Cubillos e Raúl Iturriaga Neumann.

Em 1975, os nomes de Tapia e López foram incluídos entre as vítimas da Operação Colombo, uma ação forjada pela DINA para encobrir o desaparecimento de 119 prisioneiros políticos, com o apoio de agentes da Argentina e do Brasil.

Nos dois países, foram publicadas edições únicas de jornais inexistentes, em que era afirmado que ambos morreram em expurgos feitos pelo Movimento de Esquerda Revolucionária, em territórios argentino e brasileiro.

Durante a ditadura de Pinochet, cerca de 3,2 mil pessoas foram mortas por agentes do Estado, das quais mais de 1,1 mil ainda estão desaparecidas. Outras 40 mil foram presas e torturadas por razões políticas.


(Com a Deutsche Welle)

sábado, 28 de setembro de 2019

domingo, 22 de setembro de 2019

O que Marx entendia sobre a escravidão


                                                                             
Escultura do artista plástico Sergio Romagnolo, utilizada na capa do livro Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais(Boitempo, 2019), de Kevin B. Anderson.



Marx, como gerações de socialistas, viu o caráter particularmente capitalista da escravidão no Novo Mundo – e o elo inextrincável entre a emancipação dos escravizados e a libertação de toda a classe trabalhadora


Kevin B. Anderson (*)

Este ano marca o 400º aniversário da chegada dos primeiros africanos escravizados à Virgínia. Embora esse evento funesto esteja sendo atualmente discutido de maneiras profundas e penetrantes, poucos na grande mídia estão dando atenção para o caráter particularmente capitalista da forma moderna de escravidão do Novo Mundo – um tema que atravessa a crítica a O Capital de Marx e suas extensas discussões sobre capitalismo e escravidão.


Marx não via a escravização em larga escala dos africanos pelos europeus, iniciada no começo do século XVI no Caribe, como uma repetição da escravidão Romana ou Árabe, mas como algo novo. Ela combinava formas antigas de brutalidade com a forma genuinamente moderna de produção de valor. 

A escravidão, escreveu ele em um rascunho de O Capital, atinge “sua forma mais odiosa . . . em uma situação de produção capitalista”, na qual “o valor de troca se torna o elemento determinante da produção”. Isso leva à extensão da jornada de trabalho além de qualquer limite, fazendo pessoas escravizadas literalmente trabalharem até a morte.

Seja na América do Sul, no Caribe ou nas plantations do sul dos Estados Unidos, a escravidão não era um elemento periférico, mas central do capitalismo. Como o jovem Marx teorizou essa relação em 1846 em A miséria da filosofia, dois anos antes do Manifesto Comunista:

“A escravidão direta é o eixo da indústria burguesa, assim como as máquinas, o crédito etc. Sem escravidão, não teríamos o algodão; sem o algodão, não teríamos a indústria moderna. A escravidão deu valor às colônias, as colônias criaram o comércio universal, o comércio universal é a condição da grande indústria. Assim, a escravidão é uma categoria econômica da mais alta importância.”

Tais conexões entre capitalismo e escravidão estão por toda parte nos escritos de Marx. Mas ele também abordou como várias formas de resistência à escravidão poderiam contribuir para a resistência anticapitalista. Esse foi especialmente o caso antes e durante a Guerra Civil estadunidense, quando ele apoiou fervorosamente a causa antiescravista.

Uma forma de resistência abordada por Marx foi a dos afro-americanos escravizados. Por exemplo, ele levou muito a sério o histórico ataque de 1859 a um arsenal em Harpers Ferry, Virgínia, realizado por militantes antiescravistas, tanto negros quanto brancos, sob o comando do abolicionista radical John Brown. 

Ainda que o ataque tenha falhado em desencadear a insurreição de escravos que os militantes esperavam, Marx concordou com os abolicionistas de que esse foi um evento importante, depois do qual a situação não seria mais a mesma. Mas ele acrescentou uma comparação internacional com os camponeses russos e a ênfase na ação autônoma dos afro-americanos escravizados em seu potencial contínuo de insurreição em massa:

“A meu ver, a coisa mais importante que está acontecendo no mundo hoje é, de um lado, o movimento entre os escravos na América, iniciado pela morte de Brown, e o movimento entre os escravos na Rússia, de outro . . . Acabei de ver no Tribune que houve uma nova revolta de escravos no Missouri, naturalmente reprimida. Mas o sinal já foi dado.”

Nesse momento, Marx parecia perceber uma insurreição em massa dos escravos como a chave para a abolição, e talvez algo mais no que tange ao desafio da própria ordem capitalista. Logo depois, quando o Sul declarou sua secessão e a Guerra Civil eclodiu, ele declarou seu apoio à causa do Norte, não obstante os ataques abrasadores a Lincoln por sua hesitação inicial em defender, sem mencionar levar a cabo, a abolição da escravidão e o alistamento de tropas negras.

Durante a guerra surgiu uma segunda forma de resistência ao capitalismo e à escravidão, não nos Estados Unidos, mas na Inglaterra. Enquanto as classes dominantes do país ridicularizavam os Estados Unidos como um experimento fracassado de governo republicano e até atacavam o plebeu Lincoln por sua falta de sofisticação, as classes trabalhadoras britânicas viam as coisas de maneira diferente. 

Ainda lutando por seus direitos diante da necessidade de comprovar exorbitantes qualificações de propriedade os trabalhadores viam os Estados Unidos como a forma mais ampla de democracia que existia na época, especialmente depois que o Norte se comprometeu com a abolição.

Como Marx relatou em vários artigos, as reuniões de massas organizadas pelos trabalhadores britânicos ajudaram a bloquear as tentativas do governo de intervir a favor do Sul. Nesse exemplo magnífico do internacionalismo proletário, os trabalhadores britânicos rejeitaram as tentativas de vários políticos de fomentar a animosidade em relação ao Norte com base no fato de que os bloqueios da União haviam reduzido o fornecimento de algodão, criando assim desemprego em massa entre os trabalhadores têxteis de Lancashire. Como Marx entoou em um artigo de 1862 para o New York Tribune:

“Quando grande parte das classes trabalhadoras britânicas sofre direta e severamente com as consequências do bloqueio sulista; quando outra parte é indiretamente afetada pelos cortes com o comércio estadunidense, devido, como é dito, à egoísta “política protecionista” dos Republicanos [dos EUA] . . . em tais circunstâncias, a mais simples justiça exige que se preste homenagem à sensata atitude das classes trabalhadoras britânicas, mais ainda quando contrastada com a conduta hipócrita, intimidatória, covarde e estúpida do John Bull oficial e bem-de-vida.”

Em 1864, a Primeira Internacional era formada, com muitos dos seus primeiros militantes sendo provenientes dos quadros organizadores dessas reuniões antiescravistas. Nesse sentido, um movimento antiescravista da classe trabalhadora ajudou a formar a maior organização socialista que Marx lideraria durante sua vida.

Com o fim da guerra, uma Reconstrução Radical estava em pauta nos Estados Unidos, incluindo a perspectiva de dividir as antigas plantations escravistas para viabilizar as doações de quarenta acres e uma mula para as pessoas anteriormente escravizadas.

No prefácio de 1867 a O Capital, Marx comemorou os seguintes desenvolvimentos: “Após a abolição da escravidão, uma transformação radical nas atuais relações de capital e propriedade da terra está em pauta”. O que não ocorreu, pois a medida foi bloqueada pelas forças moderadas no Congresso estadunidense.

No rescaldo da Guerra Civil, Marx discutiu o surgimento, novamente Estados Unidos, de uma terceira forma de resistência ao capitalismo e à escravidão, bem como ao racismo. Na sua visão, séculos de trabalho negro escravo convivendo com trabalho branco formalmente livre tinham criado enormes divisões entre os trabalhadores, tanto urbanos quanto rurais.

A Guerra Civil varreu parte da base econômica dessas divisões, criando novas possibilidades. Novamente em O Capital, ele discutiu essas possibilidades com evidente apreço, quando também pôs no papel sua frase mais notável sobre a dialética entre raça e classe, aqui destacada em itálico:

“Nos Estados Unidos da América do Norte, todo movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão desfigurou uma parte da república. O trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro. Mas da morte da escravidão brotou imediatamente uma vida nova e rejuvenescida.

O primeiro fruto da guerra civil foi o movimento pela jornada de trabalho de 8 horas, que percorreu, com as botas de sete léguas da locomotiva, do Atlântico até o Pacífico, da Nova Inglaterra à Califórnia.

O Congresso Geral dos Trabalhadores, em Baltimore (agosto de 1866), declarou: ‘A primeira e maior exigência do presente para libertar o trabalho deste país da escravidão capitalista é a aprovação de uma lei que estabeleça uma jornada de trabalho normal de 8 horas em todos os Estados da União americana. Estamos decididos a empenhar todas as nossas forças até que esse glorioso resultado seja alcançado.”

De fato, os líderes sindicais de 1866 estavam dispostos a pôr o capitalismo diretamente na mira, algo que posteriormente não seria visto com muita frequência nos Estados Unidos. No entanto, o sonho de Marx de solidariedade de classe com transversalidade racial não foi alcançado naquele momento devido à relutância dos sindicatos brancos em incluir trabalhadores negros como membros. O tipo de solidariedade com transversalidade racial que Marx vislumbrava pôde ser vista em larga escala algumas vezes desde então, principalmente na sindicalização em massa na década de 1930.

Quatrocentos anos após a chegada dos africanos escravizados na Virgínia, os afro-americanos continuam a experienciar o legado da escravidão nas condições de encarceramento em massa, no racismo institucionalizado tanto das políticas habitacionais como de emprego, e na crescente desigualdade de riqueza.

Ao mesmo tempo, somos confrontados com o governo mais reacionário e anti-trabalhadores de nossa história, um governo que fomenta e se alimenta das mais odiosas formas de racismo e misoginia para obter apoio entre setores da classe média e das classes trabalhadoras.

Sob esse prisma, a declaração de Marx, “o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho de pele negra é marcado a ferro”, continua sendo um lema tão relevante quanto era há 150 anos.
Publicado originalmente na revista Jacobin, por ocasião dos 400 anos da chegada de escravizados aos EUA. A tradução para o português é de Allan M. Hilani e Pedro Davoglio, para a Jacobin Brasil.



(*) Kevin B. Anderson é professor de sociologia e ciência política na Universidade da Califórnia-Santa Bárbara. Ele é autor de Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais (Boitempo, 2019), Lenin, Hegel, and Western Marxism, (sem tradução) e, com Janet Afary, de Foucault e a revolução iraniana: as relações de gênero e as seduções do islamismo (É Realizações, 2011). Também editou livros sobre Raia Dunaiévskaia e Rosa Luxemburgo, e um volume sobre os cadernos etnológicos de Marx, ainda no prelo.

(Com Boitempo/Prestes a Ressurgir)

Chega de Trump

Alex Falcó Chang/Rebelión

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Paulo Guedes põe o Brasil à venda

                                                                          
                     

           É preciso resistir nas ruas para 
               deter a destruição do País

Edmilson Costa (*)

O ministro Paulo Guedes resolveu tirar a máscara e revelar os verdadeiros objetivos de sua política econômica de terra arrasada. Em longa entrevista ao jornal Valor Econômico, órgão destinado aos grandes empresários, ele revelou seu plano estratégico para servir aos interesses do imperialismo, dos banqueiros e rentistas, do grande capital e do agronegócio. 

Sem meias palavras e um pouco também sem cerimônia, Guedes afirmou que seu objetivo é realizar uma privatização acelerada de todas as empresas públicas (“todas de uma só vez”, disse), desvincular todo o orçamento do governo federal, dos Estados e Municípios, desindexar a economia e avançar contra salários, direitos e garantias, assim como contra a estabilidade dos funcionários públicos. Ou seja, um desmonte completo do Estado, com a destruição dos direitos e a entrega do patrimônio público do País ao capital privado nacional e internacional.

Guedes quer ainda congelar o salário mínimo, rebaixar os salários, privatizar o ensino público e, especialmente, as universidades públicas e a ciência, quebrar o pacto federativo, reduzir os impostos para os ricos e, pasmem, realizar um arrocho fiscal que significará cortes drásticos em 24 das 31 áreas do governo. 

É uma política de destruição e desmonte do Estado para engordar os bolsos dos banqueiros e rentistas com os pagamentos de juros da dívida interna. Ironicamente, ele chama esse plano de “Caminho da Prosperidade”. Em outras palavras, isso significa que Paulo Guedes vai vender a preço de banana todas as empresas públicas brasileiras, como já fez com a Embraer, entregar para as multinacionais as riquezas do pré-sal descobertas pela Petrobras, além dos recursos minerais e da biodiversidade. 

Num gesto que mistura sinceridade e cinismo, ele garante que vai desinvestir e desmobilizar os ativos públicos e, para tanto, deverá colocar o BNDES como financiador do processo de privatização. É como se você vendesse a sua casa para um estranho e ainda concedesse um financiamento generoso para quem vai adquirir o seu imóvel.

Sob o argumento de que o orçamento público está vinculado ou carimbado, como costuma dizer, ele afirma que vai desvincular das garantias constitucionais todo o orçamento público. Como nós sabemos, os constituintes de 1988, para garantir as verbas para educação e saúde e outros itens da pauta social, definiram que tanto o governo federal, quanto os governos estaduais e municipais deveriam obrigatoriamente investir um percentual do orçamento em saúde e educação e áreas sociais. 

Na educação, o percentual é de 18% para o governo federal, 25% para os governos estaduais e 25% para os municipais. Na área da saúde o percentual é de 13,2% do orçamento federal, 12% do estadual e 15% do municipal. Mas Guedes quer acabar com a obrigatoriedade e deixar tudo por conta dos políticos locais, que deverão aplicar os recursos de acordo com suas conveniências.

A educação pública ficará sem recursos para atender as demandas dos estudantes e será completamente destroçada. Aí então aparecerão os conhecidos abutres financeiros, que irão justificar a privatização do ensino público porque a educação está sucateada. A

A saúde também sem verbas ampliará o caos no atendimento público e, mais uma vez, os abutres financeiros aparecerão para reivindicar a privatização da saúde e o fim do SUS (Sistema Único de Saúde). As pessoas morrerão na porta dos hospitais porque não terão dinheiro para pagar os tubarões da mercantilização da saúde. É a volta da política típica do período da República Velha, quando os coronéis dos Estados e Municípios definiam as prioridades de acordo com seu curral eleitoral.

Quem pensou que o saco de maldades do governo estaria satisfeito com a reforma da previdência, deve estar profundamente decepcionado. Agora, Guedes se prepara para um desmonte completo do Estado mediante a retirada de direitos dos funcionários públicos. 

                                                                 

Partidário radical do Estado mínimo, Guedes disse que vai redesenhar a estrutura do governo central, que está com excesso de funcionários públicos. Por isso ele vai reduzir de maneira drástica o número de funcionários públicos, acabar com a estabilidade desses trabalhadores, reduzir os salários e transformar função pública num entreposto a serviço dos governantes de plantão. Ou seja, quando as pessoas não tiverem mais atendimento nos hospitais, nem funcionários e professores na rede pública não se esqueçam: foi o Guedes que mandou reduzir a prestação dos serviços públicos.

Em sua sanha entreguista, Guedes vai colocar todo o dinheiro arrecadado com a venda das estatais e com a economia de recursos em função da política de austeridade para pagar os juros e amortizações da dívida interna em favor dos rentistas, afinal, o objetivo central do governo é beneficiar o grande capital. 

Vale lembrar que os donos dos títulos da dívida pública ganharam rios de dinheiro com a política de juros escorchantes que vigorou durante a maior parte dos últimos 30 anos de práticas neoliberais no Brasil. Como os juros eram mais elevados que o crescimento dos recursos fiscais, a dívida foi crescendo como uma bola de neve. Transformou-se numa dívida puramente financeira: não serviu para construir um hospital, nem uma escola ou uma estrada. Apenas se transformou num instrumento confortável para os rentistas em geral acumularem rios de dinheiro à custa dos cofres públicos.

Guedes também quer mexer nos programas sociais, como o Bolsa Família, cobrar mais impostos da população pobre e reduzir os impostos dos ricos. Nem as camadas médias, que tanto apoiaram Bolsonaro nas últimas eleições, ficarão de fora do austericídio que Guedes quer impor na economia. 

Ele disse que vai acabar com as deduções da saúde e educação no imposto de renda e estimular a pejotização, isto é, a contratação de trabalhadores sem os direitos e garantias previstos na Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, e ainda diminuir os impostos cobrados das empresas. Ou seja, é a barbárie institucionalizada com nome e sobrenome.

Como até agora os projetos de Guedes não tiveram em contrapartida uma resposta à altura dos trabalhadores, ele se torna mais ousado nessa ofensiva. Sua última proposição é retirar da Constituição os reajustes do salário mínimo. Pela proposta da equipe econômica, a ideia é congelar os reajustes do salário mínimo por alguns anos até que as contas públicas fiquem equilibradas. 

Não se pode esquecer que o congelamento dos reajustes do salário mínimo ou reajuste abaixo da inflação foi uma prática permanente no período da ditadura. Essa proposta de Guedes prevê uma economia de R$ 37 bilhões por ano com essa medida. Vale lembrar ainda que até 2016 a lei previa que o salário mínimo seria reajustado pela inflação, mais o percentual de aumento do Produto Interno Bruto de dois anos anteriores. 

Esta medida resultou em aumentos reais do salário mínimo ao longo de mais de uma década, o que trouxe como consequência a melhoria de condições de vida de uma parcela expressiva dos trabalhadores que recebem salário ou benefícios nessa faixa de renda. Com o golpe, essa política foi revogada.
                                                                        
Ainda na ofensiva para privilegiar o grande capital, Paulo Guedes quer desonerar de qualquer forma a folha de pagamento e outros tributos dos empresários, ou seja, quer reduzir o conjunto dos impostos que os empresários pagam ao Tesouro. O argumento, mais uma vez, é cínico: as desonerações serão feitas para aumentar o emprego. É sempre a mesma mentira: recentemente se prometeu a criação de 5 milhões de empregos se a reforma trabalhista fosse aprovada. 

Tal presente a ser dado aos empresários, que somará a quantia de R$ 326 bilhões, representa recursos bem maiores que os orçamentos da educação e do meio ambiente, por exemplo. E, para completar o desmonte do Estado, a proposta orçamentária para 2020 prevê corte em 24 das 31 áreas do governo: os investimentos públicos, que já eram baixos, deverão cair de R$ 89,1 bilhões para R$ 19 bilhões. É a politica de terra arrasada para destruir direitos, salários e entregar o País ao grande capital.

Acontece que esse tipo de política fracassou em todos as nações do mundo onde foi aplicada, deixando suas economias quebradas e destroçadas. O exemplo mais recente é o da Argentina, que vive atualmente o caos econômico em função das práticas neoliberais. Mesmo assim, Guedes teima em implantar no Brasil iniciativas que a vida já se encarregou de desmoralizar em todos os países do mundo. 

Acadêmico medíocre e condutor incompetente da pasta da Economia, Paulo Guedes quer implementar a mesma política da ditadura chilena, a quem serviu, num gesto patológico e vingativo, pois até hoje não se conforma de não ter sido aceito pela academia (mesmo composta em sua maioria por economistas neoclássicos), em função de suas ideias rasteiras e pouco fundamentadas. Por isso, seu apelido entre os economistas era Beato Salu, personagem louco e folclórico de uma novela da rede Globo.

Portanto, é hora de organizar a resistência e a contraofensiva para combater as ações desse ministro ensandecido. Se essa política se consolidar, aumentará ainda mais as desigualdades sociais e a miséria da população brasileira. Ou seja, a catástrofe nos ameaça e só a luta nas ruas, nos locais de trabalho e moradia, as grandes mobilizações de massas serão capazes de derrotar esse governo e reconstruir o País na direção do poder popular.

(*) Edmilson Costa é Secretário Geral do PCB
(Esta coluna está agora em novo endereço: Av. Amazonas,491, sala 619 - Velha Guarda do PCB.BH)

Bloqueio contra Cuba só tende a aumentar com Trump

Alex Falcó  Chang/Juventud Rebelde
(Novo endereço desta coluna: Av. Aamazonas, 491, sala 619- Velha Guarda do PCB- BH)

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Trabalhadores do ensino se mobilizam


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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Che Guevara: revolução sem fronteiras

                                                  

"Estaria disposto a entregar minha vida pela libertação de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada, sem explorar ninguém"

Haroldo Ceravolo Sereza e Fernando Carvall

Conta o anedotário da Revolução Cubana que Fidel Castro, durante uma reunião em que buscava um presidente para o Banco Central do país após a queda da ditadura de Fulgêncio Batista, entrou na sala e perguntou se havia um economista na sala. O médico argentino Ernesto Che Guevara (1928-1968), que foi um dos líderes da guerrilha na Sierra Maestra, ergueu a mão e terminou por assumir o posto – as primeiras notas do peso cubano pós-revolução foram assinadas por Che. Tempos depois, Fidel disse a Che que não sabia que ele era economista e que ficara surpreendido com a informação. Che, então, percebeu que entendera errado: Fidel procurava um economista, não um comunista...

A coragem de Che Guevara, que se expressa nas lutas guerrilheiras e na disposição para assumir as mais diferentes tarefas revolucionárias, fez dele um ícone mundial da luta por um mundo melhor. Nascido numa família de classe média argentina, asmático, goleiro e leitor de poesia, embrenhou-se pela América Latina, montado numa motocicleta, no início dos anos 1950, nos intervalos do curso de medicina.

Na segunda viagem, em 1954, estava na Guatemala quando o presidente Jácobo Arbenz resistiu o quanto pode às tentativas de desestabilização promovidas pelos Estados Unidos e pela companhia bananeira United Fruit. Neste país, conheceu sua primeira companheira, a peruana Hilda Gadea (1925-1974), aproximou-se do comunismo e construiu os laços que o levariam a se tornar uma lenda da revolução cubana.

Com Ernesto Che Guevara, o baralho Super-Revolucionários, que Opera Mundi e o site Nocaute publicam, ganha mais uma grande figura, talvez a mais conhecida imagem da rebeldia socialista, imortalizada na foto de Alberto Korda. 

Concebido por Haroldo Ceravolo Sereza, autor dos textos, e com desenhos do artista Fernando Carvall, essas cartas, numa análise séria, mas sem perder o humor jamais, atribuímos "notas" à atuação desses grandes nomes da revolução.

A ideia é, depois de alcançarmos um número suficiente de cartas, montar um jogo inspirado no conhecido Super Trunfo e publicar um livro com os cards e informações sobre esses super-revolucionários.

Já foram publicadas cartas de Antonio Gramsci, Fidel Castro, Luiz Carlos Prestes, Frida Kahlo, Alexandra Kollontai, Bela Kun, Nelson Mandela, Mao Zedong, Simone de Beauvoir, Ho Chi Minh, Leon Trotsky, Olga Benario, Karl Marx, Salvador Allende, Tina Modotti, Carlos Marighella, Rosa Luxemburgo e Franz Fanon.

As notas são provisórias e estão sujeitas a modificação.



REBELDIA 10

Ernesto Guevara de la Serna (nome de batismo de Che) foi, desde muito jovem, um rebelde. Nascido na classe média alta no interior argentino, leitor de poetas e filósofos, não deixou que o curso de medicina o afastasse das questões humanas. Assim conheceu a obra de Karl Marx.

DISCIPLINA 7

Che Guevara esteve entre os 82 guerrilheiros que desembarcaram na embarcação Granma e iniciaram a luta contra as tropas de Fulgêncio Batista. Vitoriosa a revolução, organizou os tribunais que condenaram à morte cerca de 550 integrantes da violenta ditadura de Batista, submissa aos interesses dos Estados Unidos.

TEORIA 8

Che Guevara foi, sobretudo, um pensador das experiências guerrilheiras em Cuba e das tentativas – em geral mal-sucedidas, registre-se – de reprodução dessas experiências em outros países da América Latina e da África. O foquismo (tentativa de implantar focos guerrilheiros que se convertem-se, idealmente, em “novos Vietnãs”), deve muito a suas elaborações e seu exemplo.

POLÍTICA 7

Inicialmente um apoiador do peronismo de esquerda da Argentina, Che tornou-se um revolucionário e um "exportador da revolução". Foi, no entanto, mas combatente que um nome da reconstrução de Cuba após o fim dos combates.

COMBATIVIDADE 10

Se soube ser também um "burocrata", ao comandar o Banco Nacional (banco central) e ocupar o posto de ministro da Indústria, foi na linha de frente que Che tornou-se uma figura emblemática. O sucesso da Sierra Maestra, no entanto, não se repetiria no Congo em 1965 e na Bolívia, em 1967, onde foi capturado, em 8 de outubro, e assassinado no dia seguinte.

INFLUÊNCIA 9

Em 1965, como forma de proteger Cuba de eventuais retaliações, Che renuncia a todos os cargos no país e escreve a famosa carta a Fidel Castro em que anuncia sua partida para "novos campos de batalha". Nesta carta, aparece a frase "hasta la victoria siempre" (até a vitória, sempre), amplamente difundida. Esse espírito revolucionário e sua coragem inspiraram jovens de todo o mundo, inclusive no Brasil: um dos grupos que foi à luta armada contra o regime militar, a Dissidência Comunista da Guanabara, adotou o nome MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) em homenagem a Che.


(Com Opera Mundi)

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“Temos que conter esta marcha sinistra”

                                                              
“A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio.”

O alerta acima foi feito pelo jornalista Jânio de Freitas em carta encaminhada ao ato “Ditadura Nunca Mais”, que na terça-feira (03/09) reuniu mais de 500 participantes na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, em um movimento que tem por objetivo preservar o Estado Democrático de Direito e se opor aos retrocessos que estão sendo impostos à sociedade pelos atuais governantes.

Freitas foi escolhido por unanimidade pelos organizadores do ato como o representante dos jornalistas na mesa do ato Ditadura Nunca Mais!, por simbolizar, independentemente da figura do presidente da ABI, Paulo Jeronimo, o Pagê, a categoria dos jornalistas.

Colunista da Folha de S. Paulo há mais de 30 anos informa, ele reflete e se posiciona sobre o momento político do País, de forma lúcida e independente.

Natural de Niterói, 87 anos, Jânio começou a carreira como desenhista e diagramador do Diário Carioca no início da década de 1950, foi repórter, repórter fotográfico e redator-chefe da revista Manchete, em 1959 migrou para o Jornal do Brasil, onde se tornou editor-chefe e um dos responsáveis pela reforma editorial e gráfica do JB, ao lado do artista plástico Amílcar de Castro. Depois assumiu cargos de direção no Correio da Manhã e na Última Hora

Em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida pela ong Tortura Nunca Mais, a quem se destaca pela defesa dos direitos humanos e por uma sociedade justa e menos desigual.

Por estar adoentado, Jânio de Freitas não pôde estar presente à solenidade em defesa da democracia e da liberdade, nunca tão ameaçada quanto nos tempos atuais. Agradeceu o convite, lamentou a ausência imposta por seu médico, mas fez questão de escrever uma carta sobre o momento político brasileiro, que foi lida publicamente durante o evento, pelo seu amigo pessoal, o jornalista e professor, João Batista de Abreu, recém eleito para o Conselho Deliberativo da ABI que lembra: “Antes de se tornar jornalista, Jânio queria ser aviador, mas um acidente frustrou seu desejo. A vida mostrou que no jornalismo seus voos foram mais altos!.

Eis a carta:

“Prezados democratas,

Se eu pudesse estar aqui, diria que a ameaça à democracia é permanente, como a Europa em vão nos mostra outra vez. A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio. É triste e necessário notar que a reação à Amazônia em fogo precisou vir de fora, para estar à altura da tragédia provocada.

Se eu pudesse estar aqui, diria que é preciso e urgente nos dirigirmos às consciências embotadas, uma a uma, em toda parte, para alertá-las sobre o que se passa a cada dia. Sobre a importância destrutiva dessa marcha sinistra sobre as suas vidas, sobre o futuro em que viverão seus filhos e netos. É preciso despertar o sentimento democrático hoje refugiado na perplexidade ou no desânimo.

Se eu pudesse estar aqui, lembraria que todo avanço da civilização foi fruto de inconformismo. A liberdade, os direitos humanos, a cultura, onde existam e nas doses a que aí chegaram, foram obras, todos, dos inconformados de todos os tempos.

Se eu pudesse estar aqui, faria um pedido: sejamos inconformados. O ser humano, a justiça entre todos e o Brasil democrático precisam do nosso inconformismo.“

Jornalista Jânio Sérgio de Freitas"


(Com a Associação Brasileira de Imprensa)