terça-feira, 29 de julho de 2014

Depoimento emocionante da ex-militante da União da Juventude Comunista Berta Ludischevitch, ex-mulher do dirigente comunista mineiro Jayme Goifman, sobre a perseguição à sua família durante a ditadura. O depoimento foi prestado durante reunião na OAB das Comissões Nacional e Mineira da Verdade

Se os ricos tem os meios, as ruas são nossas!


A juventude em nosso país está em luta! Mesmo após anos sendo educados para não lutar e para perder de vista qualquer esperança de transformação nós estamos nas ruas! Estamos nas ruas porque sentimos que pesam em nossas costas uma série de problemas sociais: somos nós, jovens, que sentimos as mais altas taxas de desemprego, que sofremos cotidianamente com a violência policial, que temos o acesso à educação negado, que nos endividamos antes mesmo de começar a trabalhar, que também sofremos com o racismo, o machismo e a homofobia.

Não é fácil ser jovem nos dias de hoje. O desemprego nos ameaça. A miséria nos ameaça. A polícia e o Estado nos ameaçam cotidianamente. Durante algum tempo tentaram nos enganar, repetindo a mentira de que esse era um modelo de desenvolvimento do país que beneficiaria a todos, porém, o que vemos, é um país que se consolida como uma grande potência capitalista mantendo uma grande desigualdade social, que tira a comida do prato dos trabalhadores para engordar os patrões. Os 10% mais ricos controlam 74% da riqueza nacional, tornando os ricos cada vez mais ricos e deixando para nós apenas as migalhas e falsas promessas.

Durante as últimas manifestações, os poderosos mostraram que não tolerariam qualquer tipo de mobilização da juventude e dos trabalhadores. Através de seus meios, a mídia ou a polícia, eles nos criminalizam e nos perseguem, sempre no sentido de garantir seus lucros e de combaterem qualquer risco de uma revolta e transformação social. Porém, se os ricos dominam os meios, as ruas são nossas!

Mostramos que não estamos dispostos a viver dessa maneira, que perdemos a paciência. A juventude tem muitos motivos para ir às ruas. São motivos que vão muito além dos vinte centavos. Mostramos a capacidade de mobilização que temos. Enchemos as ruas de esperanças, mostramos aos poderosos que não estamos dispostos a sofrer calados, que não iremos nos entregar sem lutar.

Porém, se conseguimos dar os primeiros passos e tomar as ruas, muito ainda deve ser feito. Nesse momento de eleições, mais uma vez a política aparece como um velho jogo de cartas marcadas, vinculada aos grandes monopólios empresariais. Mais uma vez tentarão deturpar as informações, reprimir os trabalhadores, reduzir o debate político a apenas poucas alternativas dentro de um mesmo programa, sem debater a fundo os verdadeiros problemas da sociedade.

Para nós, apesar de um momento muito importante na vida política do país, as eleições, mais do que uma ocasião para eleger candidatos, são um momento fundamental para apresentarmos uma alternativa política de poder, para criarmos nossos próprios meios contra a ofensiva dos poderosos, para expandirmos nossa visão de mundo, para fortalecermos nossos espaços de autodefesa e de elaboração política, como associações de bairros, sindicatos, organizações estudantis, comitês populares, fóruns unitários de luta, etc. Para, em suma, apresentarmos uma proposta e construímos coletivamente o Poder Popular.

É nesse sentido que lançamos o Comitê Nacional de Juventude: Mauro Iasi Presidente. Sem vender ilusões à juventude sobre a democracia burguesa, o que defendemos é que, através de uma candidatura, possamos contribuir para expressar os anseios da juventude e dos trabalhadores, apresentar uma real alternativa de poder e uma proposta de construção de um novo país. Para propagar e organizar nossas lutas, estaremos nas ruas, com toda a alegria e rebeldia da juventude, gritando em alto e bom som para os que nos exploram:

Se os ricos têm os meios, AS RUAS SÃO NOSSAS!


sábado, 26 de julho de 2014

Professor da Universidade de Nova York, David Harvey dá aulas sobre O Capital, de Marx. Nesta entrevista ele analisa as "Contradições do Capitalismo". (Os grifos são meus, J.C.Alexandre)

                                 

David Harvey é professor de antropologia e geografia do Centro de Graduação da City University of New York (CUNY). Dá aulas sobre O Capital de Marx há mais de 40 anos e é autor de um ‘guia de leitura’, em dois volumes, para ler a grande obra de Marx.

Essa leitura microscópica de O Capital é fruto de uma série de 13 conferências, cujos vídeos Harvey distribuiu online.

Seu livro mais recente é 17 Contradições e o Fim do Capitalismo.[1] O livro começa com um insight de Marx – que crises periódicas são endêmicas nas economias capitalistas – e oferece uma análise da atual conjuntura histórica. Conversei com o professor Harvey em Londres, semana passada.

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Prospect Magazine: No início do livro, o senhor observa, como outros também observaram, que há algo de diferente na mais recente crise do capitalismo, a crise financeira global de 2008. “Seria de esperar que todos” – o senhor escreveu lá – “tivessem diagnósticos concorrentes a oferecer sobre o que está errado, e que houvesse uma proliferação de propostas de o que fazer para corrigir tudo. O que mais surpreende hoje é a miséria de pensamento novo e de novas políticas.” Por que não há nem diagnósticos nem propostas nem ideias novas?

David Harvey: Uma hipótese é que a concentração de poder de classe que se vê hoje é de tal modo gigantesca, que não há por que a classe capitalista precise ou queira ver qualquer tipo de pensamento novo. A situação, por mais que seja disruptiva para a economia, não é necessariamente disruptiva para a capacidade de os ricos acumularem mais riqueza e mais poder. Assim sendo, há bem claro interesse em manter as coisas como estão. O que é curioso é que havia também, é claro, muito interesse em manter as coisas como estavam nos anos 1930s, mas aquele interesse foi atropelado por Roosevelt, pelo pensamento Keynesiano etc.

O problema da demanda agregada, que era o centro do pensamento nos anos 1930s, é problema de realização, em termos marxistas. As pessoas respondiam a pergunta e, na sequência, entraram num problema de produção, que foi respondido pelo monetarismo e pela economia de oferta. E exatamente hoje, o mundo está dividido entre os que se põem do lado da oferta e querem mais austeridade, e outros – China, Turquia e quase todas as economias em desenvolvimento – que assumem a linha keynesiana.

Mas parece que só há duas respostas – não há “terceira via”. No âmbito do capitalismo, as possibilidades são limitadas. O único modo pelo qual você pode encontrar outra resposta é pôr-se fora do capitalismo, mas ninguém quer nem ouvir falar disso!

Prospect Magazine: Isso posto, o senhor aceita, no livro, que há elementos na classe capitalista, na classe intelectual, que reconhecem a ameaça que o senhor identifica e chama de “contradições” do capitalismo. Exemplo notável aí é a discussão do problema da desigualdade.

David Harvey: Credito ao movimento Occupy ter lançado e posto em circulação essa nova conversa. O fato de que temos em New York um prefeito completamente diferente do que havia antes e que disse que vai fazer tudo que puder para reduzir a desigualdade, toda a possibilidade dessa discussão é coisa que brotou diretamente do movimento Occupy. É interessante que todos sabem do que você está falando, sempre que se fala do “1%”. A questão do 1% foi afinal posta na agenda e se tornou objeto de estudos em profundidade, como, por exemplo, o livro de Thomas Piketty, O Capital no século 21 [fr.[2]]. Joseph Sitglitz também tem um livro sobre desigualdade e vários outros economistas estão falando do assunto. Até o FMI já está dizendo que há um perigo específico que surge quando a desigualdade alcança determinado nível.

Prospect Magazine: Até Obama já anda dizendo isso!

David Harvey: Mas Obama nada diria sobre isso se o movimento Occupy não tivesse aberto a trilha. Mas quem está fazendo alguma coisa sobre o problema e de que modo alguma coisa estaria sendo realmente mudada? Se se consideram as políticas reais, vê-se que as desigualdades continuam a aprofundar-se. Há reconhecimento apenas retórico do problema, mas não há reconhecimento político, em termos de políticas ativas e redistribuição ativa.

Prospect Magazine: O senhor falou de Occupy. No livro, o senhor critica muito duramente o que o senhor chama de “restos da esquerda radical” – a qual hoje, para o senhor, é predominantemente liberal, libertarista e anti-estado.

David Harvey: Tenho uma regra que por definição nunca falha: o modo de produção dominante, seja qual for, e sua articulação política, criam a forma de oposição contra eles. Assim, as grandes fábricas e grandes corporações – General Motors, Ford etc., – criaram uma oposição baseada no movimento trabalhista e nos partidos da social-democracia; o rompimento dessa ordem – e vivemos hoje precisamente o momento desse rompimento – criou esse tipo de oposição dispersa e dispersiva que só sabe usar algumas específicas linguagens para suas reivindicações.

A esquerda não dá sinais de estar percebendo que muito do que diz é consistente com a ética neoliberal, em vez de lhe fazer oposição... Parte do anti-estatismo que se encontra hoje na esquerda casa-se perfeitamente com o anti-estatismo do capital empresarial corporativista.

Preocupa-me muito que não se ouça pensamento da esquerda que diga “Vamos nos afastar dessas conversas e observar o quadro completo.” Espero que meu livro contribua para que tenhamos essa nova conversa.

Prospect Magazine: O livro conclui num lugar interessante – com algo como um programa, 17 “ideias para a prática política”. Mas não aparece a pergunta, embora, sim, possa estar implícita no que o senhor acabou de dizer, sobre qual é o veículo apropriado para realizar aquele programa. Não se sabe onde encontrá-lo. Não é óbvio que o encontraremos.

David Harvey: Uma das coisas que temos de aceitar é que está emergindo um  novo modo de fazer política. No presente, ainda é muito espontaneísta, efêmero, voluntarista, com alguma relutância a deixar-se institucionalizar. Como poderá ser institucionalizado é, creio eu, questão aberta. E não tenho resposta para isso. Mas é claro que, de algum modo, terá de institucionalizar-se ou ser institucionalizado. Há novos partidos começando a emergir – o Syriza na Grécia, por exemplo. O que me preocupa é o que comento no livro como um estado de alienação em massa, que está sendo capitalizado amplamente pela direita. Há portanto, sim, alguma urgência em a esquerda tratar da questão de como nós nos institucionalizaremos como força política, para resistir contra uma virada de direita e capturar parte significativa do descontentamento que está nas ruas e empurrá-lo numa direção progressista, não em direção neofascista.

Prospect Magazine: O senhor descreve seu livro como tentativa para expor as contradições, não do “capitalismo”, mas do “capital”. O senhor pode explicar essa diferença?

David Harvey: Essa diferença vem de minha leitura de Marx. Pensa-se quase sempre que Marx teria criado alguma espécie de compreensão totalista do capitalismo, mas Marx não fez nada disso. Marx não arredou pé da economia política e manteve seus argumentos sempre na linha de como opera o motor econômico de uma economia capitalista. Se você isola o motor econômico, você consegue ver quais serão os problemas daquela economia.

Não implica dizer que não haverá outros tipos de problemas numa sociedade capitalista – é claro que há racismo, discriminação por gênero, problemas geopolíticos.  Mas a questão que me preocupava ao escrever esse livro era outra, mais limitada: como funciona o motor da acumulação de capital?

Já estava bem claro desde o estouro de 2007/8 que havia alguma coisa errada com o próprio motor. E dissecar o que esteja errado com o motor já será um passo na direção de política mais ampla. Esse motor econômico é muito complicado. E Marx criou um meio para compreender o motor econômico, servindo-se de ideias como “contradição” e “formação-de-crises”.

Prospect Magazine: Mais uma questão de definição: o que é capital?
                                                                                                  
David Harvey: Capital é o processo pelo qual o dinheiro é posto em ação para que se obtenha mais dinheiro. Mas é preciso muito cuidado, se só se fala de dinheiro, porque em Marx há uma relação muito complexa, como aponto no livro, entre “valor” e “dinheiro”. O processo é de busca de valor para criar e apropriar-se de mais valor. Mas esse processo assume diferentes formas – a forma dinheiro, de bens e mercadorias, processos de produção, terra... Ele tem manifestações físicas, forma-de-coisa, mas, no fundamento, não é coisa: é um processo.

Prospect Magazine: Voltemos à noção de “contradição”, que é a categoria analítica central no livro. O senhor fez uma distinção entre os choques externos pelos quais pode passar uma economia capitalista (guerras, por exemplo) e contradições, no seu sentido da palavra. Assim, por definição, contradições são internas ao sistema capitalista?

David Harvey: Sim. Se você quiser redesenhar o modo de produção, é preciso, então, responder as questões postas pelas contradições internas.

Prospect Magazine: O senhor identifica três classes de contradições, que o senhor chama de “fundacionais”, as “mutantes” e as “perigosas”. Comecemos pela primeira categoria: o que faz as contradições fundacionais serem fundacionais?

David Harvey: Não importa onde esteja o capitalismo e o modo de produção capitalista, você sempre encontrará essas contradições em operação. Em qualquer economia – seja a China contemporânea, o Chile ou os EUA – a questão do valor de uso e do valor de troca, por exemplo, lá estará, sempre. Há algumas contradições que são traços permanentes de como o motor econômico está montado. E há outras que mudam constantemente ao longo do tempo. Então, eu quis distinguir as que são relativamente permanentes e as outras, que são muito mais dinâmicas.

Prospect Magazine: Algumas contradições fundacionais são mais fundacionais que outras? Um dos traços que mais chamam a atenção no livro é que tudo, no seu modelo analítico, parece derivar, no fundo, da diferença entre valor de troca e valor de uso.

David Harvey: Ora... esse é o ponto inicial da análise. Sempre me chamou a atenção que Marx dedicou muito tempo para demarcar o ponto no qual sua análise começaria; e decidiu começar por aí, porque é o ponto de partida mais universal. Mas o que mais me impressiona – e trabalho com Marx há muito, muito tempo – é o quanto as suas contradições são intimamente interligadas. Você percebe que essa distinção entre valor de uso e valor de troca pressupõe alguma coisa sobre propriedade privada e o Estado, por exemplo.

Prospect Magazine: Outra das suas contradições fundacionais é entre “propriedade privada e o Estado capitalista”. Quer dizer: a tensão ou a contradição entre os direitos individuais de propriedade e o poder coercivo do Estado. Agora, imaginemos alguém como Robert Nozick, criado na tradição liberal, Lockeana, que chega e diz que não há aí qualquer contradição. Ao contrário: o papel do estado “mínimo” é proteger a propriedade privada.

David Harvey: Uma das coisas que digo sobre contradições é que elas estão sempre latentes. Por isso, a existência de uma contradição não gera, necessariamente, uma crise. Gerará, sob algumas dadas circunstâncias. Portanto, é possível construir teoricamente a ideia de que tudo que um estado ‘guarda-noturno’ faz é proteger a propriedade privada. Mas nos sabemos que esse estado ‘guarda-noturno’ tem muito mais a fazer, além disso. Há externalidades no mercado que têm de ser controladas; já bens públicos que têm de ser fornecidos – e assim, muito rapidamente, o estado acaba por se envolver em todos os tipos de atividades, muito além de apenas cuidar do quadro legal dos contratos e dos direitos à propriedade privada.

Prospect Magazine: O senhor nega que haja qualquer conexão necessária entre capitalismo e democracia. Pode explicar por quê?

David Harvey: A questão da democracia depende muito de definições. Supostamente haveria democracia nos EUA, mas é claro que não há, é uma espécie de farsa, de engodo – é a democracia do poder do dinheiro, não do poder do povo. E minha avaliação, desde os anos 1970s, a Suprema Corte legalizou o processo pelo qual o poder do dinheiro corrompe o processo político.

Prospect Magazine: Há um aspecto do poder do estado que avançou para o centro do palco na crise recente e imediatamente depois, sobretudo durante a crise da dívida na Eurozona: falo do poder dos bancos centrais. O senhor acha que a função dos bancos centrais mudou de modo significativo durante a era dos ‘resgates’?

David Harvey: Evidentemente mudou. A história dos bancos centrais é, ela própria, terrivelmente interessante. Não tenho certeza de que o que o Federal Reserve fez durante a crise tenha tido qualquer base legal. O Banco Central Europeu, por sua vez, é caso clássico do que Marx disse, quando comentou a Lei dos Bancos de 1844, a qual, para ele, teve o efeito de estender e aprofundar a crise de 1847-8 na Grã-Bretanha. Mas nos dois casos, do Fed e do Banco Central Europeu, o que vimos é uma espécie de ajuste no traseiro – como alfaiates fazem com calças apertadas – de grandes instituições e a emergência de políticas que só seriam justificáveis depois do fato. Quero dizer: não há dúvida alguma de que, sim, houve mudanças no front do banco central.

Prospect Magazine: Há um conceito ao qual o senhor volta várias vezes no livro: o conceito de “conversão em mercadoria” [também ‘mercadorização’, ing. commodification (NTs)].

David Harvey: O capital trata, sempre, da produção de mercadorias. Se há terreno não-mercadorizado, ali o capital não entra nem circula. Um dos meios mais fáceis para o capital conseguir penetrar aquele espaço é o estado impor ali um sistema de privatização – ainda que privatize algo que é só ficcional. Os créditos de carbono, por exemplo – trocar direitos de poluir é excelente exemplo de mercadoria criada por processo ficcional, que tem efeitos muito reais sobre o volume de dióxido de carbono na atmosfera, e assim por diante. Criar mercados onde antes não havia mercados é um dos meios pelos quais, historicamente, o capital expandiu-se.

Prospect Magazine: O senhor foi pesadamente influenciado pelo trabalho de Karl Polanyi nessa área, não? Especificamente a obra prima dele, A Grande Transformação.[3]

David Harvey: Polanyi não era marxista, mas compreendia, como Marx também compreendeu, que as ideias de terra, trabalho e capital não são mercadorias no sentido ordinário, mas que assumem uma forma de mercadoria.

Prospect Magazine: Um dos aspectos mais impressionantes do livro, pode-se dizer, mesmo, mobilizadores, emocionantes, é o relato que o senhor faz dos custos humanos da conversão em mercadoria – especificamente a conversão em mercadoria daquelas áreas da experiência humana que antes não eram parte do ‘nexo dinheiro’ [orig. cash nexus, exp. de Marx]. Há aí uma conexão com o que o senhor chama de “alienação universal”. O que é isso?
                        
David Harvey: Vivemos há tempos num mundo no qual o capital lutou sem parar para diminuir o trabalho, o poder do trabalho, aumentando a produtividade, removendo o aspecto mental dos serviços e empregos. Quando você vive em sociedade desse tipo, surge a questão de como alguém pode encontrar algum significado na própria vida, dado o que se faz como trabalho, no local de trabalho. Por exemplo, 70% da população dos EUA ou odeia trabalhar ou é totalmente indiferente ao trabalho que faz. Em mundo desse tipo, as pessoas têm de encontrar alguma identidade para elas mesmas que não seja baseada na experiência do trabalho.

Sendo assim, surge a questão do tipo de identidade que as pessoas podem assumir. Uma das respostas é o consumo. E temos um tipo de consumismo irrefletido que tenta compensar a falta de significação de um mundo no qual há bem poucos trabalhos com algum significado. Irrita-me muito ouvir políticos dizer que “vamos criar mais empregos”... Mas que tipo de empregos?

A alienação brota, entendo eu, de um sentimento de que temos capacidade e poder para ser alguém muito diferente do que é definido por nossas possibilidades. Daí surge a questão de até que ponto o poder político é sensível à criação de outras possibilidades? As pessoas olham os partidos políticos e dizem “Aqui, não há nada que preste.” 

Há, pois, a alienação para longe do processo político, que se manifesta em comparecimento declinante nas eleições; há a alienação para longe da cultura da mercadoria, também, que cria uma carência e o correspondente desejo por um outro tipo de liberdade. 

As irrupções periódicas que foram vistas pelo mundo – parque Gezi em Istanbul, ‘manifestações’ no Brasil, quebra-quebra em Londres em 2011 – obrigam a perguntar se a alienação pode vir a ser uma força política positiva. E a resposta é sim, pode, mas não se vê nada parecido nos partidos ou movimentos políticos. Viram-se alguns elementos disso no modo como o movimento Occupy ou os Indignados na Espanha tentaram mobilizar pessoas, mas foi coisa efêmera e não amadureceu em ação mais substancial. Mesmo assim, há muito fermento nos campos da dissidência cultural; há algo em movimento, e é fonte de alguma esperança.

Prospect Magazine: Quando o senhor discute as contradições “perigosas”, o senhor oferece o que me parece ser uma versão do materialismo histórico de Marx. Quero dizer: o senhor pensa, como Marx, que o presente está grávido de futuro, embora o senhor não pense de modo inevitabilista... Acho também que o senhor não vê nada de inevitabilismo, tampouco, no próprio Marx. Estou certo?

David Harvey: Não vejo, não, nada de inevitabilismo em Marx. Há quem diga que Marx teria dito que o capital desabará sob o peso de suas próprias contradições, e que Marx teria uma teoria mecanicista das crises das crises capitalistas. Mas jamais encontrei uma linha em que Marx tenha escrito coisa semelhante! O que Marx, sim, disse é que as contradições estão no coração das crises e que crises são momentos de oportunidade.

Marx também disse que os seres humanos podem criar a própria história, mas que não escolhem as condições sob as quais criarão a própria história. Para mim, portanto, há um Marx que, se não é libertarista, diz que os seres humanos são capazes de decidir coletivamente, de empurrar as coisas mais para uma direção, que para outra. Marx criticou o socialismo utópico, porque entendia que o socialismo utópico não lidava com o onde estamos. Marx disse que é preciso analisar onde se está, ver o que é viável para nós e, na sequência, tentar construir algo radicalmente diferente. *****

[1] Ing., em http://www.waterstones.com/wat/images/special/pdf/9781781251607.pdf

[2] “A Editora Intrinseca comprou os direitos de tradução para o português do Brasil de O Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty. Está em tradução, esperado nas livrarias no segundo semestre de 2014” (deve ser tudo mentira, mas é o que escreveu Lauro Jardim na revista (NÃO)Veja, em http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/brasil/o-capital-no-seculo-xxi-o-livro-de-economia-de-maior-impacto-no-mundo-chega-ao-brasil/ [NTs].

[3] http://historialecionada.com/2013/05/01/baixe-o-livro-a-grande-transformacao-de-karl-polanyi/

Publicado em 11/4/2014, entrevista a Jonathan Derbyshire, Prospect Magazine, UK – http://goo.gl/0Fac3k

 (Com o Diário Liberdade)

Repúdio à escalada repressiva e à campanha de calúnias contra os Sindicatos solidários aos movimentos sociais

                                                               
                                                             Carlos Latuff/Divulgação
                                   (Nota Política do PCB)

O Partido Comunista Brasileiro repudia o processo de criminalização levado a cabo pelo governo estadual, com respaldo do ministro da justiça, Eduardo Cardozo, aos militantes de diversas organizações políticas, bem como a tentativa de desqualificar o movimento sindical e partidos políticos do campo comunista e socialista.

O PCB compreende que tanto durante, quanto antes da realização do Mundial de Futebol da FIFA, a violência foi realizada pelo Estado e seu aparato de repressão, agindo de todas as formas possíveis para impedir o direito de manifestação. 

À violenta política de remoções, de repressão a movimentos sociais, sindicais, criminalização de greves e o uso da força para impedir manifestações, somaram-se, com o começo do mundial, o forte esquema de segurança que usou da força, da violência e da repressão para impedir legitimas manifestações.

A prisão preventiva de manifestantes, bem como a acusação de formação de grupo armado, numa clara tentativa de incriminar esses militantes como quadrilheiros e terroristas, foi classificada pela OAB-RJ e diversos especialistas da área como arbitrárias, ilegais e desnecessárias. O PCB declara a sua inteira solidariedade aos atingidos pelos atos repressivos do governo do estado.

A tentativa da mídia burguesa ao realizar uma campanha sórdida, buscando envolver os Sindicatos mais combativos e solidários com o movimento operário e popular, SEPE, SINDIPETRO e SINDISPREV, como financiadores e promotores de atos violentos e de vandalismo, visa tão somente desqualificar qualquer alternativa pela esquerda desse atual governo. 

As acusações contra a deputada estadual Janira Rocha, simplesmente por ter manifestado solidariedade aos presos e aos ativistas que buscaram asilo no consulado do Uruguai, se enquadram também nessa verdadeira operação de guerra, capitaneada pelas organizações Globo e suas congêneres, contra todos aqueles que se solidarizam com os que lutam contra a exploração e as injustiças em nosso país.

O PCB compreende que essa escalada repressiva não constitui um estado de exceção; na verdade, são manifestações cotidianas do estado democrático burguês que se utiliza das suas instituições para garantir a ordem vigente, apelando para o seu aparato repressivo quando falham os aparelhos ideológicos que induzem ao consenso.

O PCB compreende que tal quadro é uma manifestação clara do modelo de desenvolvimento político, econômico e social, e que somente a luta por uma nova sociedade poderá proporcionar avanços qualitativos. 

A luta não pode ser para humanizar o capitalismo, nem para reformá-lo, mas de substituí-lo por um novo sistema social, político e econômico: o socialismo.

Solidariedade a todos os militantes perseguidos e presos!

Solidariedade aos Sindicatos caluniados pela mídia burguesa!

Pelo direito à liberdade de organização, expressão e manifestação!

Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Comitê Regional do Rio de Janeiro

sexta-feira, 25 de julho de 2014

SINISTRAS CONFISSÕES

                                                               
                                                  José Cruz/ABr/Divulgação

José Carlos Alexandre

Havia perdido a esperança na tal Comissão Nacional da Verdade, E, de quebra, nas Estaduais e Municipais.

 Embora sob suspeição, já que estava entre os nomes levados ao então governador do Estado, Antônio Anastasia, para a escolha dos membros da Estadual...

Contudo, ao assistir ao vídeo do depoimento do delegado Cláudio Guerra à Comissão Nacional da Verdade, voltei a acreditar no trabalho do grupo encabeçado pelo professor Pedro Dallari.

São seis longas horas de perguntas, seguidas de respostas do ex-servidor da ditadura cívico-militar de 1964.

E  metodologia utilizada não deixa dúvidas sobre os crimes cometidos nos "Anos de Chumbo". 

Saliente-se que, conforme Dallari havia lembrado em entrevista ao Canal TV Brasil, a Comissão não tem poderes punitivos. Mas já é alguma coisa.

As famílias dos perseguidos, as organizações da sociedade civil e todos aqueles que defendem o Estado de Direito e sobretudo, os Direitos Humanos, tiraram de vez suas dúvidas sobre os horrores cometidos no período de 1964 a 1985.

A CNV fez projetar no telão retratos de vítimas dadas como "desaparecidas" . indagando do delegado se os identificada. Com memória privilegiada, apesar dos 75 anos,o hoje pastor Cláudio Guerra ia reconhecendo que levava os supostos subversivos para incinerar em fornos de uma usina de açúcar em Campos, Estado do Rio.

No caso que tem sido abordado neste espaço, do líder sindical e membro do Comitê Central do PCB, Nestor Veras, o delegado confessou mais uma vez que lhe deu o tiro que lhe matou, lembrando que ele estava agonizando devido às torturas.

Nestor Veras ( Vera, na verdade) havia sido sequestrado em Belo Horizonte, na avenida Olegário Maciel, esquina com a rua Tupinambás, no governo Geisel. 

Segundo o depoente, ele e outros funcionários da repressão o levaram para um local, um pouco distante da capital. Lá ele teria lhe dado o tiro "de misericórdia".

No video Nestor Veras é a foto de número l5.

O sequestro e a morte do ex-dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura voltará a ser enfocada neste sábado durante reunião em Sorocaba que contar´pa com a presença de Omene Vera, sobrinho do ex-membro do Comitê Central do PCB.

Sua história vem sendo pesquisada em São Paulo e em breve virará dissertação de mestrado e, quiçá, servirá de roteiro cinematográfico.

Importante, contudo, será levar a toda a sociedade mais um exemplo dos absurdos cometidos em nome de uma "democracia Ocidental e Cristã!".

Absurdos que talvez possam vir  ser reparados, como tem acontecido em outros países também vitimados por ditaduras embasadas pela chamada Operação Condor.
                                              

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Professor Túlio Lopes, candidato a governador pelo PCB vai ao interior

                                


O candidato do PCB, o professor Túlio Lopes,planeja ir a todas as cidades polo de Minas Gerais. A caminhada começou pela Grande BH, onde o candidato já visitou Contagem, Betim e Esmeraldas. Túlio Lopes também já teve encontros com lideranças populares em Ipatinga, no Vale do Aço, e Sete Lagoas, na região Central. “Estamos tendo uma boa recepção. As discussões são sobre três eixos principais: a priorização do poder popular, o atendimento emergencial das reivindicações dos servidores públicos, e o caráter popular, público das empresas estatais mineiras”. (jornal Hoje em Dia de 24/07/20140)

Reunião em Sorocaba abordará o sequestro em BH do líder comunista Nestor Veras, uma das vítimas da ditadura cívico-militar de 1964

                                                       

O Grupo de Trabalho "Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical", da Comissão Nacional da Verdade, realizará ato em Sorocaba, com objetivo de lembrar a resistência dos trabalhadores e sindicatos à perseguição e repressão sofridas durante o regime militar.

Atos unitários como este têm sido organizados em diversas regiões do Brasil, com o objetivo de dar voz aos integrantes de organizações trabalhistas perseguidos e seus familiares. Durante a ditadura, diversas organizações sindicais, que lutavam e se articulavam para garantir seus direitos, e que ao mesmo tempo ganhavam força no cenário político do país, foram perseguidas e reprimidas. Trabalhadores foram presos e torturados. Também houve intervenções em sindicatos e demissões em massa.

A partir da coleta de documentos e testemunhos, o GT "Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical" apura essas graves violações aos direitos humanos, que provocaram desemprego e dificuldades econômicas aos trabalhadores e militantes sindicais.

No ato em Sorocaba serão exibidos depoimentos gravados de Raphael Martinelli e do Comandante Melo Bastos (Dirigentes do CGT - Comando Geral dos Trabalhadores em 1964); Omene Vera (sobrinho do desaparecido político Nestor Vera) e Antônio Neto (filho de Guarino Fernandes, dirigente ferroviário da região).

Particular destaque terão os ferroviários, categoria perseguida já antes de 1964 pelo Governador Ademar de Barros, importante nome no golpe de 1964. Os ferroviários eram vanguarda nas lutas do interior por sua capacidade de mobilização e por estarem presentes em muitas cidades,

Além disso, está prevista a presença de familiares de Wilson Fernandes, o Bolinha, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba; Comandante Paulo, representante do Comandante Mello Bastos; Omene Vera, entre outros militantes de dirigentes sindicais.

Estarão presentes a advogada Rosa Cardoso, integrante da CNV e responsável pelo GT13, Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva", Izídio de Brito presidente da Comissão Municipal da Verdade de Sorocaba "Alexandre Vannucchi Leme" e militantes e familiares dos que foram perseguidos na ditadura.
                                                   
SERVIÇO

Ato Sindical Unitário em homenagem à memória dos que lutaram
Quando: Sábado, 26 de julho de 2014
Horário: 9h
Onde: Salão de Festas do Sindicato dos Empregados no Comércio
Endereço: Rua Trinidad, 302, Jardim América – Sorocaba – SP
Transmissão ao vivo: www.cnv.gov.br/aovivo

Reunião de Trabalho

                              


O candidato a governador do Estado pelo PCB, professor Tulio Lopes com a ex-secretária municipal para Assuntos da Comunidade Negra, Diva Moreira,  e Dirlene Marques, coordenadora do Fórum Social Mineiro.A imagem é de Arthur Rafael

segunda-feira, 21 de julho de 2014

AGENDA DE LUTAS

                                                                 


21 DE JULHO - REUNIÃO DA COORDENAÇÃO DE CAMPANHA - 19 HORAS.

22 DE JULHO - REUNIÃO DO COMITÊ MINEIRO DE SOLIDARIEDADE A PALESTINA - 18 HORAS.
20 HORAS - REUNIÃO COM PROFESSORES APOIADORES NO COMITÊ POPULAR DE CAMPANHA.

23 DE JULHO -

08 HORAS - Entrevista para a Rádio Uberaba

11 HORAS - Almoço com lideranças dos movimentos sociais e populares no Bairro Floresta.

24 DE JULHO -

Panfletagens.

25 DE JULHO - LANÇAMENTO DAS CANDIDATURAS DO PCB EM BELO HORIZONTE.

26 DE JULHO -
Atividade cultural em Sabará.
Atividade cultural em Sete Lagoas.

27 DE JULHO -


26 de agosto - Mauro Iasi em Belo Horizonte.

27 de agosto - Mauro Iasi em Ipatinga.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Provocação insólita

                                                   

Fidel Castro 

Hoje pela manhã as informações estrangeiras estavam saturadas com a insólita notícia de que um avião da linha Malaysia Airlines havia sido atingido a 10.100 metros de altura enquanto voava sobre o território da Ucrânia, pela rota sob o controle do governo belicista do rei do chocolate, Petro Poroshenko.

Cuba, que foi sempre solidária com o povo da Ucrânia, e nos dias difíceis da tragédia de Chernobil atendeu a saúde de muitas crianças atingidas pelas nocivas radiações do acidente e sempre estará disposta a seguir atendendo, não pode deixar de expressar seu repúdio pela ação de semelhante governo anti-russo, anti-ucraniano e pró-imperialista.

Por sua vez, coincidindo com o crime do avião da Malásia, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, chefe de um Estado nuclear, ordenava seu exército invadir a Faixa de Gaza, onde haviam morrido em poucos dias centenas de palestinos, muitos deles crianças. O presidente dos Estados Unidos apoiou a ação, qualificando o repugnante crime como ato de legítima defesa. Obama não apoia David contra Golias, mas Golias contra David.

Como se sabe, homens e mulheres jovens do povo de Israel, bem preparados para o trabalho produtivo, serão expostos a morrer sem honra nem glória. Ignoro qual será a doutrina militar dos palestinos, mas conheço que um combatente disposto a morrer pode defender até as ruínas de um edifício enquanto tenha seu fuzil, como demonstraram os heroicos defensores de Stalingrado.

Desejo apenas fazer constar minha solidariedade com o heroico povo que defende o último pedaço do que foi sua pátria durante milhares de anos.

Havana, 17 de julho de 2014.

Fonte: Prensa Latina.

Presidente Mauro Iasi, governador, Túlio Lopes, ambos professores


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Não ao genocídio palestino

Iván Lira/Rebelión/Divulgação

Comissão Nacional da Verdade ouve depoimentos de familiares de Zequinha e Otoniel Barreto

                                                                     

A Comissão Nacional da Verdade e a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo "Rubens Paiva" ouviram, no último dia 15 de julho, na Assembléia Legislativa de São Paulo, os irmãos Olderico Barreto e Olival Barreto e a filha de Olderico, a jornalista Thaís Barreto. Eles são familiares de José Campos Barreto, o Zequinha Barreto, e Otoniel Barreto, assassinados em 1971.

Zequinha foi uma liderança operária durante a Ditadura Militar, tendo sido preso e torturado no Deops de São Paulo por estar à frente da greve da Cobrasma, em Osasco, no ano de 1968. Após a edição do AI-5, quando Zequinha entrou para a clandestinidade, ele aproximou-se de Carlos Lamarca, capitão do Exército que se recusou a servir à Ditadura e, ao aderir à luta armada, tornou-se um dos líderes oposicionistas mais procurados.

A família Barreto abrigou os foragidos Zequinha e Lamarca durante dois meses, entre junho e agosto de 1971. Em 28 de agosto daquele mesmo ano, militares e policiais à paisana cercaram a pequena casa no povoado de Buriti Cristalino (Bahia), fazendo todos reféns. A ação fez parte da chamada Operação Pajussara, liderada pelo então major Nilton Cerqueira e pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que tinha como objetivo capturar e assassinar Carlos Lamarca.

Zequinha e Lamarca estavam em um acampamento, a cerca de 1,5 km da casa da família Barreto. Na ação dos agentes da repressão, Otoniel Barreto, bem como Luiz Antônio Santa Bárbara, foram executados e seus corpos foram expostos à população e sepultados no povoado. Horas depois, foram desenterrados e levados em um helicóptero para Salvador.

Em Salvador, também foi enterrado Zequinha Barreto, a revelia da família. O pai de Zequinha e Otoniel, José de Araújo Barreto, foi levado até Salvador para reconhecer os corpos, que foram enterrados no cemitério do Campo Santo. Até hoje, apesar de inúmeros pedidos, a família não obteve a exata localização dos restos mortais de seus entes.

DEPOIMENTO - Os irmãos Olderico e Olival Barreto, que prestaram depoimento à Comissão, tinham então 22 e 11 anos, respectivamente, e presenciaram toda a operação. No momento do tiroteio, Olival conta que se escondeu debaixo da cama, o que lhe permitiu ver apenas a parte inferior do corpo de Luiz Antônio Santa Bárbara, que estava junto dele, no quarto.

Quando os militares entraram atirando, Santa Bárbara tombou do seu lado, sujando-o de sangue. Olderico foi torturado no meio da rua, levou tiros e carrega até hoje as cicatrizes no seu corpo. O pai deles, José de Araújo Barreto, então com 64 anos, também foi preso e torturado.

"Então eles ficaram com meu pai, fazendo buscas, tentando descobrir onde estava o Lamarca. Eles ficaram ali do sábado até a sexta-feira seguinte. Eu fiquei na casa de uns tios, o único lugar que deu algum apoio, porque todas as pessoas do lugar sentiram muito medo. Eu mesmo cheguei a ir a casas de pessoas que bateram a porta na minha cara. Aí eu fiquei imaginando que se eu recebi uma porta na cara, imaginei quantas portas na cara o Zequinha e o Lamarca não receberam naquele período que eles ficaram naquela serra, procurando uma comida, alguma coisa", lembrou Olival, que na época tinha 11 anos.

Poucos dias depois, em 17 de setembro, exaustos e doentes, Lamarca e Zequinha foram encontrados e executados no povoado de Pintada, município de Ipupiara, no sertão da Bahia.

MEMÓRIA - Em Pintada, foi construído recentemente um memorial no local onde foram assassinados Zequinha Barreto e Carlos Lamarca. Há 14 anos, por iniciativa do Bispo Dom Luiz Cappio, ocorre no dia 17 de setembro uma homenagem, a Celebração dos Mártires. Desde 2009, esta data é feriado em Brotas de Macaúbas.

Durante a sessão, foi entregue documento, assinado pelos familiares de Zequinha e Otoniel Barreto, pedindo apoio da Comissão Nacional da Verdade para a localização dos túmulos no cemitério do Campo Santo, em Salvador, onde os irmãos teriam sido enterrados, para que a família possa fazer o translado dos restos mortais para o "Memorial dos Mártires". O documento está disponível aqui. Caso as famílias de Lamarca e Santa Bárbara concordem, é desejo da família Barreto que seus restos também sejam levados para lá.

Estavam presentes na audiência Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, e André Vilaron, assessor da CNV. A Comissão da Verdade reiterou que dará todo apoio à família Barreto na sua solicitação.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Fim imediato à agressão de Israel aos palestinos, exigem os portugueses

Barrar o genocídio do povo palestino

                                                                      

                                           (Nota Política do PCB)

A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) manifesta seu repúdio a mais uma agressão de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza, cujas bombas já mataram dezenas de pessoas, entre estas mulheres e crianças, e deixaram centenas de feridos. Trata-se, na verdade, de mais um genocídio contra os palestinos, uma vez que não possuem um Estado soberano, não contando com exército, marinha nem aeronáutica e estão sendo bombardeados por um dos mais bem equipados exércitos do mundo.

A agressão sionista é uma punição coletiva contra o povo palestino que, nas mais difíceis condições, não se curva aos algozes e continua sua resistência contra a ocupação de seus territórios. Faz parte do aumento da agressividade do imperialismo e seu s satélite s no Oriente Médio, os sionistas de Israel, em função da crise sistêmica global, cujo objetivo é balcanizar a região, como vem ocorrendo em outras partes do mundo, de forma a consolidar suas posições geopolíticas.

O Partido Comunista Brasileiro manifesta sua mais irrestrita solidariedade ao povo palestino em luta contra o sionismo e conclama os trabalhadores e os movimentos sociais brasileiros a se manifestarem nas ruas em protesto em razão de mais essa brutalidade contra o her oi co povo da palestina.

PCB - Partido Comunista Brasileiro

Comissão Política Nacional

domingo, 13 de julho de 2014

Israel, Palestina e a estratégia de BDS


                                                 

Noam Chomsky 


É necessário ampliar ainda mais a denúncia dos crimes que o Estado fascista e racista de Israel comete, com a permanente cobertura, apoio e cumplicidade dos EUA. Mas o facto de o sionismo empreender a ferro e fogo a consolidação de um Grande Israel em que a discriminação racial constitui um elemento central não deve conduzir a um paralelo imediato com o regime do apartheid. O caminho seguido por Israel é muito pior do que esse.


O sofrimento ocasionado pelas acções de Israel nos Territórios Ocupados tem causado séria preocupação pelo menos entre alguns israelitas. Durante muitos anos Gideon Levy, colunista de Haaretz, tem sido um dos mais abertos, escrevendo que “haveria que condenar e castigar Israel por tornar insuportável a vida sob a ocupação, [e] pelo facto de um país que afirma figurar entre as nações mais ilustradas continuar a abusar de um povo inteiro, noite e dia”.

Tem sem dúvida razão, e haveria que acrescentar alguma coisa mais: haveria também que condenar e castigar os Estados Unidos por proporcionar apoio militar, económico, diplomático e ideológico decisivo a estes crimes. Na medida em que o continue a fazer, há poucas razões para esperar que Israel suavize as suas brutais medidas políticas.

Um distinto especialista académico israelita, Zeev Sternhell, escreve, analisando a maré nacionalista reaccionária do seu país, que “a ocupação continuará, será confiscada a terra aos seus proprietários para ampliar os colonatos, o Vale do Jordão será limpo de árabes, a Jerusalém árabe ficará estrangulada pelos bairros judeus, e qualquer acto de roubo e insensatez que seja útil para a expansão judia na cidade será bem recebido pelo Tribunal Supremo de Justiça.

Está aberto el caminho para uma África do Sul e não será detido até que o mundo ocidental coloque Israel perante uma escolha inequívoca: ou se põe fim à anexação e se desmantelam os colonatos e o estado dos colonos ou se converterá num paria”.

Uma questão crucial reside em saber se os Estados Unidos deixarão de minar o consenso internacional, que é a favor de um acordo de dois estados seguindo a fronteira internacionalmente reconhecida (a Linha Verde, estabelecida nos acordos de cessar-fogo de 1949), dando garantias à “soberania, integridade territorial e independência política de todos os estados da zona e ao seu direito a viver em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas”. Assim está redigida a resolução submetida al Conselho de Segurança das Nações Unidas em Janeiro de 1976 pelo Egipto, Síria e Jordânia, apoiada pelos estados árabes…e vetada pelos EUA.
                                                           
Não era esta a primeira vez que Washington bloqueava um acordo diplomático pacífico. O mérito é de Henry Kissinger, que apoiou a decisão de Israel em 1971 de rejeitar o acordo oferecido pelo presidente egípcio Anuar El Sadat, preferindo assim a expansão à segurança, rumo que desde então Israel tem seguido com apoio norte-americano. Em certas ocasiões, a postura de Washington torna-se quase cómica, como em Fevereiro de 2011, quando a administração Obama vetou uma resolução das Nações Unidas que apoiava a política oficial norte-americana: oposição à expansão dos colonatos de Israel, expansão que continua (também com apoio norte-americano), pese embora alguns murmúrios de desaprovação.

A expansão do ingente programa de colonatos e infra-estruturas (que inclui o muro de separação) não é a questão, mas antes o é o próprio facto de existir: tudo isso é ilegal, tal como determinaram o Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Tribunal Penal Internacional, e como reconhece praticamente o mundo inteiro, aparte de Israel e dos Estados Unidos desde a presidência de Ronald Reagan, que baixou de categoria o “ilegal” para o converter em “obstáculo para a paz”.

Uma forma de castigar Israel pelos seus atrozes crimes foi a que iniciou em 1997 o grupo israelita pela paz Gush Shalom: o boicote aos produtos dos colonatos. Essas iniciativas ampliaram-se consideravelmente desde então. Em Junho, a Igreja Presbiteriana decidiu desvincular-se de três multinacionais com sede nos EE.UU implicadas na ocupação.

O êxito de mayor alcance é a directiva de política da União Europeia que proíbe financiar, cooperar, premiar investigações ou qualquer relação similar com toda entidade israelita que mantenha “laços directos ou indirectos” com os territórios ocupados, onde todos os colonatos são ilegais, como reitera a declaração da UE. A Grã-Bretanha já tinha dado instruções ao comércio retalhista para “distinguir entre bens que procedem de produtores palestinos e bens que têm a sua origem em colonatos ilegais israelitas”.

Há quatro anos, Human Rights Watch pediu a Israel que cumprisse as “suas obrigações legais internacionais” de eliminar os colonatos e de pôr fim às suas “práticas abertamente discriminatórias” nos territórios ocupados. HRW pediu também aos EUA que suspendessem o financiamento a Israel “numa medida equivalente aos custos da despesa de Israel em apoio dos colonatos”, e verificassem que as isenções fiscais relativas a contribuições para Israel “fossem congruentes com a obrigação norte-americanas de garantir o respeito pelo Direito internacional, incluindo a proibição de discriminar”.

Tem havido muitas outras grandes iniciativas de boicote e desinvestimento nas últimas décadas, que ocasionalmente — mas não o bastante — tocavam o assunto crucial do apoio norte-americano aos crimes israelitas. Entretanto, formou-se um movimento pelo BDS (que apela ao “boicote, desinvestimento e sanções”), e que cita frequentemente o modelo da África do Sul; para serem mais precisos, a abreviatura deveria ser “BD”, posto que as sanções, ou as sanções por parte dos estados, não assomam no horizonte, uma das muitas significativas diferenças com a África do Sul.

O apelo inicial em 2005 do movimento de BDS por parte de um grupo de intelectuais palestinos exigia que Israel cumprisse com os requisitos do Direito internacional “ (1) Pondo fim à sua ocupação e colonização de todas as terras árabes ocupadas em Junho de 1967 e desmantelando o Muro; (2) Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel em sua plena igualdade; e (3) Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados a regressar aos seus lares e propriedades, tal como estipula a Resolução 194 das Nações Unidas”.

Este apelo recebeu considerável atenção, e merecidamente. Mas se nos preocupa o destino das vítimas, o BD e outras tácticas têm de ser reflectidas e avaliadas cuidadosamente no que diz respeito às suas prováveis consequências. A procura de (1) na lista referida faz sentido: tem um objectivo claro e o público a quem é destinada no Ocidente compreende-a facilmente, razão pela qual as muitas iniciativas guiadas por (1) tiveram bastante êxito — não apenas para “castigar” Israel mas também para estimular outras formas de oposição à ocupação e ao apoio norte-americano à mesma.

Entretanto, não é esse o caso de (3). Embora exista um apoio quase universal a (1), praticamente não há apoio significativo a (3) para além do próprio movimento de BDS. Tão pouco dita (3) o Direito internacional. O texto da Resolução 194 da Assembleia Geral das Nações Unidas é condicional e em qualquer caso trata-se de uma recomendação, sem a força legal das resoluções do Conselho de Segurança que Israel regularmente viola. A insistência em (3) é uma virtual garantia de fracasso.
                               
A única ténue esperança para conseguir (3) para além de uma expressão simbólica é que as mudanças a longo prazo conduzam a erodir as fronteiras imperiais impostas por França e Grã-Bretanha após a I Guerra Mundial que, tal como outras fronteiras semelhantes, carecem de legitimidade. Isto poderia conduzir a uma “solução sem Estado”— na minha opinião, a melhor, e no mundo real não menos plausível que a “solução de um só Estado” que se discute normalmente, embora de forma errada, como alternativa ao consenso internacional.

A defesa de (2) resulta mais ambígua. Há “proibição da discriminação” no Direito internacional, como observa HRW. Mas perseguir (2) abre de imediato a porta à convencional reacção do “quem tem telhados de vidro”: por exemplo, se boicotamos a Universidade de Tel Aviv porque Israel viola os direitos humanos no seu país, então ¿por que não boicotar Harvard por causa de violações muito maiores perpetradas pelos EUA? Como era previsível, as iniciativas que se centram em (2) têm-se deparado com um fracasso quase geral e assim continuarão até que os esforços de esclarecimento atinjam um ponto em que o terreno esteja suficientemente fértil para que a opinião pública o entenda, como sucedeu no caso da África do Sul.

As iniciativas falhadas prejudicam duplamente as vítimas: distraem a atenção dos seus problemas desviando-a para questões irrelevantes (o anti-semitismo em Harvard, a liberdade académica, etc.) e desperdiçam as oportunidades existentes de fazer algo de significativo.

A preocupação pelas vítimas dita-nos que ao avaliar as tácticas, deveríamos ser escrupulosos na hora de reconhecer o que teve sucesso e o que fracassou, e porquê. E isto nem sempre sucedeu (Michael Neumann discute um de muitos exemplos deste fracasso no número de Inverno 2014 dos Journal of Palestine Studies). A mesma preocupação é a que dita que devemos ser escrupulosos no que diz respeito aos factos.

Tomemos a analogia com a África do Sul, constantemente citada neste contexto. Trata de algo muito duvidoso. Há uma razão pela qual se utilizaram tácticas de BDS contra a África do Sul, enquanto a actual campanha contra Israel fica restringida a BD: no primeiro caso, o activismo tinha criado uma oposição internacional ao apartheid tão esmagadora que os Estados e as Nações Unidas, tinham imposto sanções décadas antes dos anos 80, que é quando se começaram a utilizar amplamente as tácticas de BD nos EUA. Nessa altura, já o Congresso estava legislando sanções e fazendo caso omisso dos vetos de Reagan nesta matéria.

Já anos antes — por volta de 1960 — os investidores globais haviam abandonado África do Sul, a tal ponto que as suas reservas tinham minguado para metade: embora se tenha verificado uma certa recuperação, os sinais eram já claros. Em contraposição, o investimento norte-americano continua a fluir para Israel. Quando Warren Buffett adquiriu uma empresa de fabricação de ferramentas por 2.000 milhões de dólares, descreveu Israel como o país mais prometedor para os investidores para além dos próprios Estados Unidos.

Em último lugar, embora exista dentro dos Estados Unidos uma crescente oposição aos crimes israelitas, não pode nem de longe comparar-se com o caso sul-africano. Não se fez o trabalho de esclarecimento necessário. Os porta-vozes do movimento BDS podem acreditar que atingiram o seu “momento sul-africano”, mas isso está longe de ser exacto. E se queremos que a táctica seja eficaz, deve basear-se numa avaliação realista das actuais circunstâncias.

Boa parte do problema resulta da invocação do apartheid. No interior de Israel, a discriminação contra os não judeus é severa; as leis sobre a terra são apenas o exemplo mais extremo. Mas não se trata de apartheid ao estilo sul-africano. Nos territórios ocupados, a situação é bastante pior do que era na África do Sul, onde os nacionalistas brancos necessitavam da população negra: eram a mão-de-obra do país e, por grotescos que fossem os bantustões, o governo nacionalista dedicava recursos a mantê-los e a procurar-lhes reconhecimento internacional. Em contraste flagrante com essa situação, Israel quer desfazer-se da carga palestina. O caminho pela frente não conduz à África do Sul, como geralmente se afirma, mas a algo muito pior.

Aonde leva este caminho é algo que vai surgindo perante os nossos olhos. Tal como faz notar Sternhell, Israel prosseguirá as suas actuais políticas. Manterá um impiedoso assédio a Gaza, separando-a da Cisjordânia, tal como os EUA e Israel têm feito desde que adoptaram os Acordos de Oslo em 1993. Embora Oslo declarasse que a Palestina era “uma só entidade territorial”, no jargão oficial israelita Cisjordânia e Gaza converteram-se em “duas zonas separadas e distintas”. Como de costume, há pretextos de segurança, que quando se analisam caem rapidamente por terra.

Na Cisjordânia, Israel continuará a apropriar-se daquilo que considere valioso — água, terra, recursos — dispersando a limitada população palestina, ao mesmo tempo que integra estas aquisições no Grande Israel. Nele inclui-se a “Jerusalém” enormemente ampliada que Israel anexou violando os preceitos do Conselho de Segurança, tudo o que há no lado israelita do muro de separação ilegal, os canais a Leste que criam cantões palestinos inviáveis, o Vale do Jordão, de onde de forma sistemática se expulsam os palestinos e se estabelecem colonatos, e os enormes projectos de infra-estruturas que unem todas estas aquisições a Israel propiamente dito.
O caminho por delante não leva à África do Sul, mas a um aumento da proporção de judeus no Grande Israel que está a ser edificado. Esta é a alternativa realista a um acordo sobre dois estados. Não há razão para esperar que Israel aceite um Estado palestino que não deseja.

John Kerry foi azedamente condenado quando repetiu o lamento — corrente em Israel — de que a menos que os israelitas aceitem algum tipo de solução de dois estados, o seu país se converterá num estado de apartheid, que governará um território com uma maioria palestina oprimida e enfrentado o pavoroso “problema demográfico”: demasiados não judeus num Estado judeu. A crítica adequada é que esta crença comum é uma miragem. Enquanto os EUA continuarem a apoiar as políticas expansionistas de Israel, não há motivo para esperar que estas sejam interrompidas. Há que idear tácticas em consonância com isso.

Entretanto, existe uma comparação com a África do Sul que resulta realista…e significativa. Em 1958, o ministro dos Estrangeiros sul-africano informou o embaixador norte-americano de que não importava grande coisa que a África do Sul se convertesse num estado pária. As Nações Unidas podem condenar asperamente a África do Sul, declarou, mas, tal como disse o embaixador, “o que importava porventura mais do que todos os demais votos em conjunto era o dos EUA, tendo em conta a sua posição dominante de liderança no mundo ocidental”. Durante quarenta anos, desde que preferiu a expansão à segurança, Israel tem no essencial feito a mesma avaliação.

Para a África do Sul, esse cálculo teve bastante êxito durante largo tempo. Em 1970, emitindo o seu primeiro veto de uma resolução do Conselho de Segurança, os EUA juntaram-se à Grã-Bretanha para bloquear as iniciativas contra do regime racista da Rodésia do Sul, passo que se repetiu em 1973. Finalmente, Washington converteu-se por larga margem no campeão do veto nas Nações Unidas, primordialmente em defesa de los crimes israelitas.

Mas já na década de 80 a estratégia da África do Sul ia perdendo eficácia. Em 1987, até Israel — porventura o único país que então violava o embargo de armas contra a África do Sul— se decidiu a “reduzir os seus laços para evitar pôr em risco as relações com o Congresso dos Estados Unidos”, segundo informou o director-geral do ministério dos Estrangeiros israelita. A preocupação consistia em que o Congresso pudesse castigar Israel pela violação da recente legislação norte-americana. Em privado, os funcionários israelitas asseguravam aos seus amigos sul-africanos que as novas sanções seriam “pura fachada”. Poucos anos mais tarde, os últimos apoiantes da África do Sul juntaram-se ao consenso mundial e o regime do apartheid caiu.

Na África do Sul chegou-se a um compromisso que resultou satisfatório para as elites do país e os interesses de negócios norte-americanos: foi posto fim ao apartheid, mas continuou em vigor o regime socioeconómico. Com efeito, ver-se-iam algumas caras negras em limusinas, pero os privilégios e os lucros não se veriam muito afectados. Na Palestina, não há um compromisso similar em perspectiva.

Outro factor decisivo na África do Sul foi Cuba. Tal como Piero Gleijeses demonstrou no seu magistral trabalho de investigação, o internacionalismo cubano, que não tem hoje qualquer paralelo real, desempenhou um destacado papel na eliminação do apartheid e na libertação da África negra em geral. Existe uma razão suficiente para que Nelson Mandela visitasse Havana pouco depois da sua saída da prisão e declarasse: “Vimos aqui conscientes da grande dívida que temos para com o povo de Cuba. ¿Que outro país pode registar um historial de maior abnegação do que aquela que Cuba manifestou nas suas relações com África?”
                                                                               
Tinha muita razão. As forças cubanas expulsaram os agressores sul-africanos de Angola; foram um factor-chave para libertar a Namíbia das suas brutais garras e deixaram bem claro ao regime do apartheid que o seu sonho de impor o seu domínio sobre a África do Sul e a região estava a converter-se em pesadelo. Em palavras de Mandela, as forças cubanas “destruíram o mito da invencibilidade do opressor branco”, o que, segundo disse, “constituiu o momento de viragem para a libertação do nosso continente — e do meu povo — do chicote do apartheid”.

O “poder brando” cubano não foi menos eficaz, incluídos os 70.000 cooperantes altamente qualificados e as bolsas a milhares de africanos para estudar em Cuba. Um contraste radical com Washington, que não só foi o último a manter o apoio à África do Sul como continuou depois a apoiar as assassinas forças terroristas de Jonas Savimbi, “um monstro cujo apetite de poder havia ocasionado horripilantes sofrimentos ao seu povo”, nas palavras de Marrack Goulding, embaixador britânico em Angola, parecer secundado pela CIA.

Os palestinos não podem esperar um salvador semelhante. Razão acrescida para que aqueles que estão sinceramente dedicados à causa palestina devam evitar fábulas e miragens e meditar com cuidado a táctica a escolher e o rumo a seguir.

(*)Noam Chomsky é professor emérito de linguística y filosofia em el Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge, Mass.

Fonte: www.sinpermiso.info</em>

Latuff e a crise no Oriente Médio


sábado, 12 de julho de 2014

110 anos de Pablo Neruda

                                 
                               
Obra de Neruda permanece viva. Chile presta homenagem ao poeta


LEIA TAMBÉM:
DURA ELEGIA (1943) por Pablo Neruda (En la tumba de la Senõra Leocadia Prestes)
Poema escrito por Pablo Neruda e lido por ele no Comício do Pacaembu (julho de 1945).


Um homem só pode morrer uma única vez. Mas um poeta, ainda que morra mil vezes, permanecerá vivo enquanto for celebrada a sua poesia. Há 110 anos, nascia no interior do Chile, em Parral, Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, o menino que viria a ser conhecido como Pablo Neruda. Publicou os primeiros poemas aos 14 anos e nunca mais parou. Trabalhou como professor de francês, editor de revistas, cônsul do Chile e foi uma das vozes da poesia da América do Sul. 

“Pablo Neruda deve ser lembrado por si só, no sentido da essência pela pessoa e pelo poeta que foi”, afirma Fernando Sáez, diretor da Fundação Pablo Neruda em Santiago, no Chile. Por lá, as comemorações hoje contam com um apelo tecnológico. Uma imagem holográfica do poeta percorrerá as ruas da mesma forma como ele fazia em vida. 

A celebração incluirá a doação da Biblioteca Multilíngue Pablo Neruda à escola Villa Las Estrellas, na Ilha do Rei George, na Antártida, onde convivem bases de diversos países. O poeta, que chegou a receber o Nobel de Literatura em outubro de 1971, morreu em 23 de setembro de 1973, duas semanas depois do golpe militar que levou Augusto Pinochet ao poder naquele país, duro trauma para um socialista assumido e defensor da liberdade incondicional, na vida e na poesia. 

Os fãs do poeta têm mais um motivo especial para comemorar a data. Foi anunciada no mês passado a descoberta de 20 poemas inéditos de Neruda. “Trata-se de um trabalho minucioso de pesquisa, página por página, de manuscritos dele”, conta o diretor da Fundação Pablo Neruda, Fernando Sáez. Não se tratam de poemas que estavam guardados nem foram os últimos do poeta. “São textos escritos entre os anos de 1955 a 1970 e que, por algum motivo, não entraram nos livros que ele publicou nesse período”, explica. São seis sobre amor e mais 14 de outros temas. O material tem publicação prevista para este ano pela editora Planeta.
                                                          
                                                  
  
Entrevista >> Fernando Sáez, diretor da Fundação Pablo Neruda 

“Ele abriu uma porta no exterior”

Qual a importância de se recordar Pablo Neruda? 

Deve ser lembrado por si mesmo! Pela essência dele, foi um dos poucos poetas que permanecem vivos, na popularidade e na leitura. Os principais temas da poesia dele — a natureza, o amor, os animais, o mar e as coisas simples — são assuntos que podem facilmente interessar a qualquer um.

Qual é a importância de Neruda para a poesia da América do Sul?

Acredito que seja na América do Sul que ele tem mais seguidores — um pouco óbvio. Mas, de qualquer maneira, ele abriu uma porta no exterior para toda a poesia hispânica. Por isso tanta gente seguiu essa tradição. 

E com o poeta Vinicius de Moraes? 

Eles não se encontravam com muita frequência, mas eram grandes amigos. Vinicius sempre foi um celebrador da vida, assim como Neruda. Eles tinham uma afinidade poética, uma sensibilidade em comum. Quando lemos os poemas que trocaram, as cartas, fotografias, percebemos que é um material que revela uma amizade muito sincera e profunda, uma admiração mútua.

Para conhecer Neruda

História natural de Pablo Neruda — A elegia que vem de longe de Vinicius de Moraes
Companhia das Letras
Preço: R$ 37

Mostra concreta da amizade  de longa data entre Pablo Neruda  e Vinicius de Moraes.


Memorial de Isla Negra de Pablo Neruda
Coleção L&PM Pocket
Preço: R$ 19,90

Reunião de memórias que homenageiam Isla Negra, uma cidade de pescadores em que Neruda viveu de 1939 a 1973.

Os versos do capitão de Pablo Neruda
Bertrand Brasil
Preço: R$ 40.

Os versos publicados há mais  de 25 anos estão disponíveis  em versões em espanhol e  em português.

Confesso que vivi de Pablo Neruda
Bertrand Brasil
Preço médio: R$ 58

A autobiografia apresenta um Pablo Neruda orgulhoso de sua pátria e amigo de seu povo. Também exibe diários, memórias e cartas do poeta chileno.


FONTE: Diário de Pernambuco 

(Com Prestes a Ressurgir)